24/03/2020 - 9:30
A cloroquina é um tratamento milagroso para a Covid-19 ou uma falsa esperança? Veja o que se sabe sobre este medicamento usado para o tratamento da malária, que alguns querem administrar de forma generalizada para lutar contra o novo coronavírus, apesar da prudência aconselhada pela OMS.
– O que é ? –
É um medicamento barato e usado há várias décadas no tratamento da malária, um parasita transmitido por mosquito.
É conhecido sob vários nomes comerciais de acordo com países e fabricantes: Nivaquine e Resochin, por exemplo.
Existe um derivado, a hidroxicloroquina, para doenças inflamatórias das articulações.
Os efeitos colaterais são múltiplos: náusea, vômito, erupções cutâneas, mas também condições oftalmológicas, cardíacas e neurológicas.
Uma overdose pode ser perigosa e os médicos desaconselham tomá-la sem receita médica.
“Esses dois medicamentos têm uma margem terapêutica estreita, ou seja, a dose eficaz e a dose tóxica são relativamente próximas”, adverte a Sociedade Francesa de Farmácia.
Vários laboratórios que fabricam medicamentos à base de cloroquina anunciaram doações às autoridades de saúde de vários países e/ou o aumento ou retomada de sua produção.
– O que se sabe sobre seus efeitos contra o coronavírus? –
Em meados de fevereiro, pesquisadores chineses afirmaram ter obtido resultados positivos em ensaios clínicos com cloroquina, entre cem pacientes com Covid-19.
Apesar do pequeno número de pacientes e da falta de detalhes sobre a metodologia e os resultados deste estudo, o médico francês Didier Raoult, diretor do Instituto e Hospital Universitário de doenças infecciosas em Marselha e renomado especialista no assunto, retomou esse trabalho na França.
Raoult também é membro do comitê científico que assessora o governo.
O médico defende a cloroquina como tratamento, tanto na mídia quanto nos vídeos que compartilha na internet.
Muitos de seus colegas, no entanto, criticam sua campanha, na ausência de ensaios clínicos conduzidos no âmbito de protocolos rigorosos e publicados em revista científica com um comitê de leitura independente.
– Testes em vários países –
O Dr. Raoult testou a cloroquina em pacientes em seu centro hospitalar, com resultados positivos, de acordo com sua equipe, que os publicou com base nos testes de cerca de vinte pacientes.
Eles receberam Plaquenil – nome comercial na França da hidroxicloroquina – e alguns, dependendo de seus sintomas, também tomaram o antibiótico azitromicina.
“Apesar da pequena amostra, nosso estudo aponta que o tratamento com hidroxicloroquina está associado a uma diminuição/desaparecimento da carga viral (…) e seus efeitos são reforçados pela azitromicina”, segundo o estudo confirmado por Raoult.
Invocando o juramento de Hipócrates dos médicos, sua equipe anunciou no domingo a intenção de administrar esses dois medicamentos a “todos os pacientes infectados” a partir de agora.
O tratamento também é realizado no Centro Hospitalar de Nice (sudeste) com o consentimento das famílias, segundo o prefeito Christian Estrosi, ele próprio tratado com cloroquina.
No nível europeu, um ensaio clínico chamado Discovery foi lançado no domingo em vários países para testar quatro tratamentos experimentais, incluindo a hidroxicloroquina, um estudo que “incluirá pelo menos 800 pacientes franceses que sofrem de formas graves de Covid-19”.
Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), que supervisiona a comercialização de medicamentos, anunciou um “estudo clínico abrangente”, lembrando que seu papel era garantir que os produtos fossem seguros e eficazes.
– Por quê provoca polêmica? –
Por um lado, há aqueles que pedem cautela e que esperam os resultados de grandes ensaios clínicos realizados segundo a ortodoxia científica; por outro, aqueles que desejam acelerar o processo e administrar cloroquina extensivamente em nome de uma emergência de saúde.
O presidente americano Donad Trump enfatizou suas supostas virtudes em várias ocasiões e na França alguns políticos também pedem uso generalizado.
Mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) “condenou” na segunda-feira “o uso de medicamentos sem evidência de eficácia”, alertando contra “falsas esperanças”, em uma clara alusão ao estudo confirmado pelo Dr. Raoult.
A OMS aponta o fato de que foi realizado entre um pequeno número de pacientes, que tanto o grupo que recebeu o medicamento quanto o grupo que não o recebeu foram escolhidos por sorteio e que médicos e pacientes sabiam quem o estava recebendo.