Alvo de um escracho que bombou nas redes sociais nas últimas horas, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o Caju da Odebrecht, é a personificação do golpe de 2016. Foi ele quem, numa definição lapidar, apontou a essência da conspiração política que derrubou a presidente Dilma Rousseff. Era preciso, segundo Jucá, “estancar a sangria”, contendo investigações e protegendo políticos contra quem, como ele, pesam graves acusações de corrupção. A construção desse muro contra a Lava Jato, no entanto, representa apenas um dos eixos do golpe. Os outros dois são a entrega das riquezas nacionais, como vem acontecendo com o pré-sal, e a retirada de direitos, não apenas econômicos, como no caso da reforma trabalhista, mas também civis, com a agenda moralista que vem ganhando corpo no Congresso.

Nessa ponte acelerada para o passado, que faz com que o Brasil seja motivo de espanto e perplexidade no mundo civilizado, milhões de brasileiros se sentem impotentes e sem esperança nas instituições. Até porque, como disse Jucá em sua célebre conversa com Sergio Machado, o golpe era “com Supremo, com tudo”. É justamente esse o caldo de cultura que explica o escracho sofrido por Jucá, feito pela assistente social Rúbia Sagaz num voo na quarta-feira 29. “Meu objetivo era expor para todos que ali conosco viajava um criminoso, um corrupto assumidamente criminoso, e dizer, na verdade resgatar, através das próprias falas dele, as formas como ele costuma negociar os nossos direitos”, disse Rúbia.

Embora o escracho seja uma forma de protesto condenável, porque fere a privacidade alheia, ele ocorre quando a população se dá conta de que todos os sinais estão fechados. No Brasil, convertido em terra sem lei, o discurso oficial é o “de que as instituições estão funcionando”. E assim se mantém um governo ilegítimo, recordista mundial em impopularidade e que toca uma agenda regressiva, por meio de um Congresso que também vira as costas à população.

No episódio, Jucá ainda ameaçou agredir a passageira, mas recuou quando percebeu que estava praticamente sozinho no avião. Ela apenas vocalizou o que muitos ali dentro sentiam em relação a ele. Ou seja: mesmo que tenha conseguido derrubar uma presidente honesta e estancar a sangria, Jucá terá cada vez mais dificuldade para frequentar espaços públicos. E essa também deverá ser a sina de muitos políticos que participaram da trama mais vergonhosa da história do Brasil.

Antes do escracho, Jucá conseguiu expulsar a senadora Kátia Abreu do PMDB e foi chamado por ela de “canalha, corrupto e crápula”, sem que conseguisse esboçar uma resposta. Kátia disse ainda que ser expulsa por gente como Jucá não é punição, mas sim biografia. De fato, Jucá escolheu ser, como disse Rúbia Sagaz, um corrupto assumido. O escracho foi apenas a consequência lógica.

Ele encarna um golpe que retira direitos, entrega riquezas e protege corruptos, com Supremo, com tudo