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Ronaldinho Gaúcho, um dos maiores nomes da história do esporte brasileiro, está preso no Paraguai junto de seu irmão, Assis Moreira, ambos sob a acusação de portarem documentos falsos para entrar no país e suspeitos de participarem de negócios fraudulentos e lavagem de dinheiro. A justiça paraguaia acredita que os irmãos estavam interessados em se associarem a uma empresa que poderia movimentar até R$ 2 bilhões. O caso, assim como boa parte da carreira do craque após as glórias alcançadas no futebol, chama atenção por ser bastante inexplicável. Não é preciso passaporte paraguaio para entrar no país, pois as regras do Mercosul garantem que apenas o RG basta. Procurar explicações para isso podem levar a motivações comprometedoras ao jogador. Ronaldinho atingiu o auge em 2006, ao levantar a Liga dos Campeões da Europa com o Barcelona, completando um período que foi pentacampeão mundial e duas vezes o melhor jogador do mundo em quatro anos. Dali para frente, as badalações tomaram conta da vida do jogador. Em 2008, teve passagem discreta pelo Milan, um conturbado período no Flamengo e venceu a Libertadores com o Atlético Mineiro. Encerrou a carreira em 2018, após uma temporada no México, sete jogos no Fluminense e meses no futsal da Índia. Dois nomes menos badalados, no entanto, ajudam a entender um pouco melhor porque Ronaldinho e Assis estavam com os documentos frios: Wilmondes Sousa Lira e Dalia López.

O primeiro é empresário de Assis, preso na primeira noite dos irmãos no Paraguai. Ele foi apontado como intermediário na obtenção dos passaportes, e disse em depoimento que a responsável pela liberação dos documentos foi Dalia, empresária paraguaia e presidente da fundação Fraternidade Angelical, que seria a responsável pela organização de eventos beneficentes envolvendo Ronaldinho na visita ao Paraguai – motivo “oficial” pelo qual ele viajou até lá. O governo paraguaio já revogou o registro da fundação e Dalia é considerada foragida. A empresária operaria um esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, enviando dólares aos EUA e repatriando-os de forma clandestina. A conexão com os irmãos Assis seria feita através de uma empresa de Wilmondes, onde eles entrariam como sócios em movimentações de até US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões).
René Fernández, ministro da Secretaria Nacional Anticorrupção do Paraguai que investiga o caso, afirmou que há indícios de que Ronaldinho e Assis depositaram cerca de R$ 42 mil em um banco paraguaio para iniciar o processo de naturalização. Fernández acusou o assessor do ministro do Interior, Anastacio Ojeda, de saber dos passaportes dois dias antes dos irmãos desembarcarem no Paraguai. Ojeda renunciou após as acusações. Euclides Acevedo, titular da pasta, afirmou que o ministro da Justiça do Brasil, Sergio Moro, entrou em contato para saber sobre a possibilidade de soltura dos irmãos, negada pelo paraguaio. Moro estará no país no final do mês, onde dará palestras sobre segurança pública. Apesar de, segundo Acevedo, ele ter ressaltado o respeito pela soberania do país, tal consulta não foi tão bem recebida entre os paraguaios.

BAGUNÇA Dalia López (esq.), acusada de liberar os documentos falsos. Equipe do ex- jogador leva malas dele e do irmão ao presídio (abaixo) (Crédito:Divulgação)

Prisão festiva

A defesa nega que Ronaldinho e Assis estejam envolvidos em tais negociatas, com o advogado Adolf Marín chegando a afirmar que os paraguaios “não levaram em consideração que Ronaldinho não sabe que cometeu um delito, porque não entendeu que lhe deram documentos falsos, ele é tonto.” A permanência de Ronaldinho na carceragem da Agrupação Especializada de Assunção está gerando uma série de relatos curiosos. Os irmãos tiveram o direito a prisão domiciliar negado pela Justiça paraguaia, sob alegação de que haveria o risco de fuga do país. A equipe dos irmãos levou as malas que estavam no hotel para a penitenciária e está facilitando que eles façam refeições especiais na cadeia, incluindo pedido de lanches por aplicativo.

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O preso-estrela tem distribuído autógrafos às pessoas que vão visitar outros detentos, e como teve o regime domiciliar negado, poderá participar de um campeonato interno de futsal entre os presos e agentes penitenciários. Por onde passa, Ronaldinho espalha carisma. Logo que foi detido, posou para foto com policiais e agentes da perícia. O sentimento entre os que visitam a prisão é de que ele foi detido injustamente. Nos últimos dias, um novo impasse com a Justiça. A 9a Vara Cível de Goiânia marcou uma audiência de concialiação entre Ronaldinho, a empresa de investimentos 18kRonaldinho e clientes que se dizem lesados por ela. O processo pede R$ 300 milhões em danos morais e materiais aos acusadores. Os irmãos negam que fazem parte da empresa, afirmando apenas terem feito propagandas para ela. O craque precisará de uma performance estelar nos tribunais, semelhante a quando foi o melhor jogador do mundo, para virar esse jogo.