O que pouca gente percebeu na final de hoje do Power Couple

Coluna: Matheus Baldi

Mineiro, Matheus Baldi é jornalista e apresentador, com passagens por UOL, SBT, Record e Band. Com mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, já ultrapassou os 2 bilhões de visualizações em seus vídeos na internet. Diariamente, Matheus compartilha sua visão apurada e informações exclusivas sobre os bastidores do show business.

O que pouca gente percebeu na final de hoje do Power Couple

A 7ª temporada do reality da Record TV chega ao fim com cenário imprevisível e clima de tensão entre os casais

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Nesta quinta-feira, dia 10, o Brasil assiste a mais uma final de reality show, a do ‘Power Couple Brasil’, da Record TV, e, como quase tudo ultimamente no nosso país, ela também carrega o DNA da polarização.

No centro do ringue, dois casais: de um lado, Carol e Radamés, estrategistas assumidos, que jogaram com frieza, cálculo e uma dose generosa de sangue frio. Do outro, Dhomini e Adriana, um casal que carregou para o reality o mesmo temperamento explosivo que Dhomini já havia mostrado no Big Brother Brasil, em 2003. Rayanne Morais e Victor Pecoraro? Nesta final, o casal de atores acabou virando figurante nessa trama de guerra e paixões.

E aqui estou eu, como cronista de bastidores, tentando costurar, entre gritos e xingamentos, o fio de humanidade dessa história. A verdade é que o Power Couple Brasil virou palco de um duelo que extrapolou o jogo. Embates fervorosos, discussões agressivas e uma dinâmica que parece ter um roteiro invisível, onde vence quem berrar mais alto.

Dhomini não disfarça seu estilo. No jogo, deixou claro que não leva desaforo para casa e que não estava ali para agradar. “Prefiro perder com a minha verdade do que ganhar com falsidade”, essa foi uma de suas falas mais repetidas na temporada. Ao lado de Adriana, ele se colocou como alguém que fala “na cara” e não suporta falsidade ou jogo duplo. Não à toa, protagonizou embates pesados com Carol e Radamés, a quem chamou de “falsos” e “hipócritas”, acusando-os de manipular situações e jogar para as câmeras. 

Apesar do tom inflamado, Dhomini também mostrou cansaço com o ambiente tóxico que se criou. Disse que o jogo estava “pesado”, que as pessoas deixaram o prêmio falar mais alto que o respeito. Mas, mesmo cansado, seguiu firme no combate, como quem não sabe ou não quer recuar.

Já Carol e Radamés se mantiveram fiéis à estratégia de jogo duro. Não negaram as jogadas frias e, em muitos momentos, usaram o controle emocional como arma, o que, para uns, soa como inteligência; para outros, como frieza calculista. A rivalidade entre os dois casais foi além das provas e apostas. Foi pessoal, foi visceral.

O curioso é perceber como essa disputa escancara algo maior, muito maior. Estamos tão condicionados à polarização que já nem nos damos conta de como enxergamos tudo com filtros pessoais. Em um reality show, um grito pode ser lido como “coragem” ou “abuso”, dependendo de quem grita e de quem assiste. A edição, claro, tem papel nisso, mas o público, no fundo, escolhe o lado com base na própria lente de mundo.

Nas redes sociais, o reflexo é imediato. Torcidas se organizam como exércitos. As hashtags se multiplicam. E a mesma cena que, para alguns, é “força” e “verdade”, para outros é “arrogância” e “vitimismo”. Cada lado defende seu casal com unhas, dentes e memes, enquanto o reality vai alimentando a fogueira.

É impossível não lembrar do que Jon Ronson escreveu no livro “Humilhados e Ofendidos na Internet”, quando disse que vivemos uma era em que o entretenimento se alimenta da vergonha alheia e do linchamento moral. Me lembro de uma fala do filósofo Byung-Chul Han que me marcou muito sobre esses tempos atuais. Para ele, a sociedade contemporânea transformou o sofrimento em mercadoria. Sinto que virou exatamente isso. Vou além, vou usar uma frase muito comum entre quem estuda comunicação e que foi dada pelo canadense Marshall McLuhan: “o meio é a mensagem”. O reality show não apenas reflete a sociedade, ele também a molda, retroalimentando o ciclo de conflitos.

Confesso, assisto a tudo isso com uma mistura de fascínio e cansaço. Porque, sim, é entretenimento. Mas é também um espelho nada confortável. A gritaria, que um dia foi tempero, agora virou o prato principal. O barraco, que antes era exceção, agora se tornou regra.

Ainda assim, eu insisto em acreditar que há espaço para outro tipo de jogo. Quem sabe, no futuro, o público volte a valorizar a sutileza, as alianças improváveis, as histórias que emocionam sem precisar de gritos. Quem sabe a gente volte a ligar a TV não para escolher um lado na briga, mas para se reconhecer nos acertos e nas imperfeições dos outros.

Hoje, um casal vai vencer. Mas, daqui a pouco, tudo isso vira pó na memória digital. Logo um novo reality começa, com novas torcidas, novos vilões e novos heróis. E o ciclo se repete. No fim, talvez a maior conquista seja daqueles que conseguem refletir sobre o que tem acontecido nesses confinamentos televisionados. E, a partir dessa reflexão, sejam capazes de melhorar comportamentos em sua própria vida, sobretudo se permitindo libertar-se dessa falsa necessidade de ter sempre razão, tanto na vida quanto nos jogos.