O que os EUA têm a ganhar caso assumam o controle de Gaza?

REUTERS/Elizabeth Frantz
Presidente dos EUA, Donald Trump Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi alvo de duras críticas pela comunidade internacional por defender que o país assuma o controle da Faixa de Gaza “a longo prazo” e sugerir aos palestinos que procurem outras regiões para viver. A ideia de Trump não foge da ambição expansionista do republicano, que já manifestou o desejo de tomar a Groenlândia e o Canal do Panamá.

Durante uma entrevista coletiva no Salão Oval da Casa Branca, Trump falou — ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu — que Gaza seria a “Riviera do Oriente Médio”. O republicano ainda ressaltou que todos com quem ele conversou “adoram a ideia de os Estados Unidos possuírem aquele pedaço de terra”.

“Os Estados Unidos vão assumir o controle da Faixa de Gaza, e faremos um grande trabalho lá. Será nossa responsabilidade desmontar todas as bombas não detonadas, nivelar o solo, nos livrar dos edifícios destruídos e terraplanar a área para impulsionar o desenvolvimento econômico que gerará uma quantidade ilimitada de empregos e moradias para a população”, ressaltou.

No entanto as declarações do chefe de Estado norte-americano foram rechaçadas pela comunidade internacional, incluindo aliados dos Estados Unidos. Um deles foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou que Gaza tem de ser cuidada pelos palestinos. “Todos com quem conversei adoram a ideia de os Estados Unidos possuírem aquele pedaço de terra”, acrescentou.

O que os EUA podem ganhar com isso?

Especialistas ouvidos pelo site IstoÉ afirmam que controlar o território palestino não traria ganhos políticos ou econômicos a Trump, e citaram um possível desgaste na relação entre os EUA e a Arábia Saudita, uma grande aliada no Oriente Médio e que rejeitou qualquer tentativa de locomover a população de sua terra, afirmando que não normalizaria os laços com Israel sem a criação de um Estado palestino.

Veja a visão de três especialistas consultados pela reportagem sobre os anseios de Trump:

Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador de Harvard: “Supondo que a ideia avançasse, os EUA teriam em Gaza uma base militar, o que ajudaria pouco o país, já que há mais de 30 mil soldados no Oriente Médio divididos entre Síria, Jordânia, Iraque, Catar, Bahrein e Kuwait, além de Israel”.

Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM: “As declarações do republicano beiram o ridículo e colocam em risco as alianças dos EUA na região, principalmente com a Jordânia, o Egito e a própria Arábia Saudita, e talvez com Israel, visto que Netanyahu demonstrou desconforto com as falas do republicano”.

“Isso é mais um desgaste político internacional e que segue um pouco essa agenda de fragmentação da multipolaridade com as declarações de Trump”.

Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM:  “Isso pode ter sido apenas algo para chocar e mostrar que os EUA podem fazer qualquer coisa para resolver o problema em Gaza, em vez de uma proposta viável e com impactos positivos”.

Transferência forçada é proibida pela ONU

Devido à grande repercussão do caso, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, veio a público nesta quarta-feira, 5, relembrar que qualquer transferência ou deportação forçada de um território ocupado é “estritamente proibida”.

“O direito à autodeterminação é um princípio fundamental do direito internacional e deve ser protegido por todos os Estados”, finalizou.