O que os cardeais pedem ao sucessor de papa Francisco?

VATICANO, 6 MAI (ANSA) – Por Fausto Gasparroni – Um mandato missionário e evangelizador da Igreja; o compromisso com a paz, o diálogo com outras religiões e contra a polarização na sociedade contemporânea e no próprio mundo católico; a continuidade com o pontificado de Francisco; a proximidade com os pobres e excluídos; e a luta contra escândalos financeiros e abuso sexual.   

Tudo isto está entre os “pedidos” dirigidos ao futuro líder da Igreja Católica pelos cardeais eleitores e pelos outros sem direito a voto, que emergiram nas congregações gerais.   

A lista contribuiu também para elaborar um “kit de identidade”, no qual é possível elencar os “desafios” a enfrentar e as qualidades que o novo pontífice deve ter para que haja respostas eficazes.   

A contribuição dos cardeais ao longo das 12 sessões pré-conclave foi variada e todos compartilharam diferentes perspectivas e experiências caracterizadas pelos contextos dos vários continentes.   

Trabalho missionário e evangelização – A evangelização foi tema de debate em diversos momentos dos encontros, com destaque para “a necessária coerência entre o anúncio do Evangelho e o testemunho concreto da vida cristã”.   

Várias intervenções destacaram “a urgência de comunicar o Evangelho de forma eficaz em todos os níveis da vida eclesial, desde as paróquias até a Cúria, recordando que o testemunho do amor mútuo é o primeiro anúncio”.   

A dupla tarefa da Igreja é “viver e testemunhar a comunhão dentro de si e promover a fraternidade no mundo”. “Foi enfatizada a natureza missionária da Igreja: que ela não deve fechar-se em si mesma, mas acompanhar cada homem e cada mulher rumo à experiência viva do mistério de Deus”.   

Jubileu e o Sínodo – O valor da sinodalidade, em sinergia com a colegialidade episcopal, “como expressão de corresponsabilidade diferenciada” foi recordado várias vezes. O caminho do Sínodo é a “expressão concreta de uma eclesiologia de comunhão, na qual todos são chamados a participar, escutar e discernir juntos”.   

A sinodalidade também se expressa “na sua relação com a missão” e com a “superação do secularismo”. Não faltaram referências ao Jubileu e “ao desejo de que o próximo papa tenha um espírito profético, capaz de guiar uma Igreja que não se fecha em si mesma, mas saiba sair e levar luz a um mundo marcado pelo desespero”.   

Em resumo, todos estão conscientes “do risco de que a Igreja se torne autorreferencial e perca a sua relevância se não viver no mundo e com o mundo”.   

Finanças do Vaticano – A sétima congregação se concentrou na situação econômica e financeira da Santa Sé. O cardeal Reinhard Marx, coordenador do Conselho para a Economia, enfatizou o déficit ? acredita-se que é 70 milhões de euros, mas os números não são oficiais ?, apresentando um quadro de desafios e questões críticas, com propostas “orientadas para a sustentabilidade”, e reiterando “a importância de que as estruturas econômicas continuem a apoiar de forma estável a missão do papado”.   

Outras intervenções registradas foram as dos cardeais Kevin Joseph Farrell sobre a atividade do Comitê de Investimentos; Christoph Schonborn sobre o Instituto para as Obras da Religião (IOR), mais conhecido como Banco do Vaticano; Vergez sobre as obras de reforma dos edifícios do Estado do Vaticano; Konrad Krajewski, esmoleiro e cardeal, sobre o compromisso do Escritório de Caridade Escândalos, abusos, vocações – “Contratestemunho” é o termo usado para questões como abuso sexual e escândalos financeiros: capítulos abordados “como uma ferida a ser mantida aberta, para que a consciência do problema permaneça viva e caminhos concretos possam ser identificados para sua cura”. E a questão das vocações sacerdotais e religiosas também foi discutida “em relação à renovação espiritual e pastoral da Igreja”.   

Guerras, polarização na sociedade e na Igreja – Grande “sofrimento” e “preocupação” foram expressados pela “polarização dentro da Igreja” e pelas “divisões na sociedade”.   

Entre os desafios, “o cuidado da criação, a guerra, a fragmentação do mundo”, “o serviço da Igreja e do Pontífice à causa da paz”. Sobre as guerras em andamento, os tons foram tocantes, “marcados pelo testemunho direto de cardeais de regiões afetadas por conflitos”.   

Acompanhando os migrantes, defendendo os pobres – Falando de “etnicismo” na Igreja e na sociedade, os cardeais abordaram o tema da migração, “reconhecendo os migrantes como um dom para a Igreja, mas também destacando a urgência de acompanhá-los e apoiar sua fé em contextos de mobilidade e mudança”. Além disso, “foi destacado o papel fundamental da Cáritas, chamada não apenas a ajudar, mas a defender os pobres, testemunhando a justiça do Evangelho”.   

Agradecimentos a Francisco – O ensinamento do papa Francisco e os processos iniciados sob seu pontificado foram lembrados “com gratidão”, “enfatizando a responsabilidade de continuá-los e protegê-los”.   

A evangelização era “o coração do pontificado”: “uma Igreja de comunhão fraterna e evangelizadora, capaz de falar sobretudo às novas gerações”. Também foi recordada a oração tocante na pandemia de Covid-19, em uma Praça de São Pedro vazia, “uma porta aberta de esperança em tempos de medo”.   

Como deve ser o novo papa – O perfil: “uma figura presente, próxima, capaz de servir de ponte e guia, de promover o acesso à comunhão para uma humanidade desorientada e marcada pela crise da ordem mundial.   

Um pastor próximo da vida concreta das pessoas”. Em seguida, foi reiterado “o compromisso e a responsabilidade dos cardeais em apoiar o novo Papa, chamado a ser um verdadeiro pastor, um líder que sabe ir além dos limites da Igreja Católica, promovendo o diálogo e a construção de relações com outros mundos religiosos e culturais”. (ANSA).