SÃO PAULO, 24 ABR (ANSA) – Após a morte de um papa, a atenção do mundo todo se concentra na Capela Sistina, para aguardar a fumaça que anunciará a escolha de um novo pontífice.
Mas por trás das portas fechadas e lacradas, longe dos holofotes, funciona uma “máquina organizacional” tão silenciosa quanto essencial: a da cozinha, tendo em vista que os cardeais precisam comer até definirem o futuro da Igreja Católica.
Durante o conclave, todos os cardeais eleitores ficam hospedados na Casa Santa Marta, no Vaticano, até então residência oficial do papa Francisco, que morreu no dia 21 de abril, aos 88 anos, onde uma cozinha é montada e dedicada a servi-los, com uma equipe cuidadosamente selecionada, sendo a “reclusão absoluta” o princípio que orienta todos os funcionários.
Segundo as regras, citadas pelo jornal italiano “La Repubblica”, os religiosos não podem ter contato com o mundo exterior, assim como todos os cozinheiros e garçons. Desta forma, ficam proibidos telefones, dispositivos eletrônicos, enquanto as entradas e saídas são rigorosamente controladas pela segurança do Vaticano.
Em conclaves mais recentes, dispositivos antiespionagem foram instalados até mesmo em áreas comuns e cozinhas. Cada membro da equipe deve assinar um juramento de sigilo, que proíbe não apenas a divulgação de informações, mas também a troca de palavras desnecessárias com os cardeais eleitores.
O serviço de mesa é silencioso, com interações reduzidas ao mínimo. Antigamente, monges e freiras preparavam as refeições, mas hoje em dia prefere-se chefs leigos, aqueles que já trabalham no Vaticano ou que vêm de instituições confiáveis.
Às vezes, fornecedores externos são usados, mas sempre sob controle e de acordo com um protocolo rigoroso.
A mesa é dominada pela simplicidade, com refeições leves, mas completas: o café da manhã conta com café, chá, pão e geleia; o almoço tem entrada, segundo prato, acompanhamento e fruta; e o jantar é mais econômico, apesar de ser semelhante.
O vinho é fornecido em pequenas quantidades e somente mediante solicitação, enquanto as bebidas destiladas são excluídas.
Algumas necessidades pessoais dos cardeais, como alergias ou intolerâncias, são consideradas sempre que possível, mas não há concessões “gourmet”.
Apesar da simplicidade, a culinária do conclave não é desprovida de sabor, tendo em vista que os pratos são inspirados na tradição italiana, incluindo risotos, massas, carnes brancas, peixes assados, legumes grelhados e frutas da estação.
Além disso, o pão é fresco todos os dias e, em ocasiões especiais como domingo, os cardeais também podem receber uma sobremesa simples: uma torta ou um pudim.
No conclave de 2013, inclusive, vários cardeais ? especialmente americanos e sul-americanos ? apreciaram a qualidade da comida e a atmosfera discreta durante a hospedagem na Casa Santa Marta.
Ainda de acordo com o “La Repubblica”, a história da comida dos conclaves sofreu mudanças ao longo dos séculos. Em 1274, o papa Gregório X introduziu regras rígidas para encurtar o processo eleitoral: se um veredito não fosse alcançado dentro de três dias, os cardeais recebiam apenas um prato por refeição; depois de oito dias, somente pão, vinho e água.
O objetivo era evitar impasses como o que ocorreu durante sua escolha, que durou quase três anos (1268-1271). A medida foi tão eficaz que no conclave de 1276, em Arezzo, o novo Papa foi eleito em apenas um dia. Com o tempo, porém, essas restrições diminuíram. (ANSA).