O que mais afeta o desempenho de Lula, Michelle, Tarcísio e Ciro nas redes sociais

O presidente Lula (PT), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-ministro Ciro Gomes (de saída do PDT)
O presidente Lula (PT), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-ministro Ciro Gomes (de saída do PDT) Foto: Montagem/IstoÉ

O presidente Lula (PT) liderou pela primeira vez o Índice Datrix de Presidenciáveis, que mede a performance digital dos potenciais candidatos ao Palácio do Planalto em 2026, em agosto. Já a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), líder em julho, caiu para a sétima posição.

No mês em questão, seu marido Jair Bolsonaro (PL), réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta tentativa de golpe de Estado, foi colocado em prisão domiciliar e diretamente associado às tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, em vigor desde 6 de agosto.

Com dificuldade conhecida para mobilizar eleitores nas plataformas digitais, Lula apostou na reação às sanções comerciais da Casa Branca para explorar o discurso de defesa da soberania nacional e se antepor à postura do antecessor e adversário. O levantamento mostra que a estratégia surtiu efeito.

O que mais afeta o desempenho de Lula, Michelle, Tarcísio e Ciro nas redes sociais

Enquanto o petista ascendeu e o ex-presidente — que não consta no índice porque está inelegível até 2030 — sucumbiu, não foram os candidatos ao espólio bolsonarista a ganhar tração nas redes, mas Ciro Gomes (de saída do PDT), quatro vezes presidenciável no campo da centro-esquerda, em processo de migração para o campo oposto.

Para definir a ordem, o índice considera o engajamento dos conteúdos publicados pelos presidenciáveis; como eles repercutiram nos perfis de influenciadores, veículos de imprensa e outros políticos, que indicam reputação além da própria bolha; e classifica de forma automática o caráter dessa mobilização — se as menções, portanto, são positivas, negativas ou neutras.

Para explicar o que está por trás da performance dos políticos que estão no jogo para 2026, a IstoÉ entrevistou João Paulo Castro, CEO da Datrix e responsável pelo estudo.

Lula

“Por ser o incumbente, Lula foi, naturalmente, o presidenciável mais atacado nas edições anteriores, o que o impediu de chegar à ponta [o IDP é publicado desde janeiro de 2025 e o petista nunca havia liderado]. Mas as crises recentes do governo foram pouco atribuídas ao presidente e mais a outros membros da gestão; por outro lado, o grande fato do mês [tarifaço] colocou o alvo sobre as lideranças da oposição, o que é muito raro”.

“Além dos adversários serem mais atacados, o presidente cresceu no mar aberto [que considera os conteúdos de outros perfis], onde a perspectiva era de críticas, de viés negativo. Ao reverter isso, a vantagem é muito grande”.

Michelle Bolsonaro

Michelle é a presidenciável com o maior poder de engajamento sobre a própria base, mesmo mantendo uma postura discreta, com menor número de publicações e posicionamentos na comparação com os demais. Neste sentido, ela pode ser comparada a um influenciador digital”.

“Em agosto, a ex-primeira-dama publicou muito menos e foi diretamente associada aos casos negativos que envolveram seu marido no mar aberto, o que explica a queda”.

Herdeiros do bolsonarismo

“A base bolsonarista estranha o posicionamento das outras opções desse campo nas redes sociais. O Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo], por exemplo, não está mal colocado, mas teve dificuldade para ampliar sua repercussão positiva porque foi alvo de ‘fogo amigo’ dos perfis da direita. Essa base, que no geral não é negativa ao governador, o chamou muitas vezes de ‘oportunista‘ nesse período [Tarcísio é criticado pelo núcleo mais radical do bolsonarismo, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que apontam falta de empenho na defesa do ex-presidente diante dos processos judiciais no STF]”.

“No caso dos demais presidenciáveis da direita, como Ratinho Júnior, Romeu Zema e Ronaldo Caiado [governadores de Paraná, Minas Gerais e Goiás, respectivamente], além do fogo amigo, há ainda um colchão reputacional mais baixo, restrito aos estados que governam, que restringe sua capacidade de mobilização. A expectativa é de que haja uma organização maior dessa base até a eleição”.

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Ciro Gomes

“A imprensa, que tem grande influência no debate político digital, recolocou Ciro nas discussões e, por consequência, provocou debate público em torno do ex-ministro, o que contrastou com uma atuação até então discreta e de pouca presença no noticiário“.

“Mesmo sem uma estratégia definida, Ciro atraiu uma repercussão majoritariamente positiva nas suas redes sociais. Ao mesmo tempo, a baixa exposição [nos meses anteriores] contribui para manter esse status, já que o presidenciável não estava no alvo de nenhum dos lados, ao contrário dos nomes que estão nesse jogo há mais tempo. Com o retorno ao debate, essa tendência pode ser alterada nos próximos meses”.