País detém uma das maiores reservas europeias do mineral crítico para a transição energética. Moradores da região relatam à DW suas dúvidas e esperanças, enquanto Washington e Kiev discutem acordo de terras raras.O tempo parece ter parado em Polokhivske, no coração da Ucrânia. Apenas um punhado de pessoas vive aqui, as casas estão vazias e dilapidadas, e os campos de restolho se estendem até o horizonte. A situação não é diferente no vilarejo vizinho de Kopanki, onde quase só restam casas abandonadas. Segundo relatam as poucas pessoas que permaneceram na aldeia, em todo o ano de 2024 apenas uma criança nasceu no local.
"Comecei a trabalhar aqui em 1976", recorda o aposentado Volodimir, de Kopanki. "Eu era o 400º trabalhador da fazenda coletiva, e agora tem provavelmente menos de cem moradores aqui. Só há funerais, nenhum casamento, as coisas não são costumavam ser." As pessoas deixaram Kopanki por falta de emprego. Hoje em dia, só passa ônibus duas vezes por semana no vilarejo.
É bastante improvável que Donald Trump já tenha ouvido falar de Polokhivske ou Kopanki. E, no entanto, é bem provável que o presidente dos EUA esteja bastante interessado nessa área – ou melhor, no que existe debaixo dela. Aqui, bem no centro da Ucrânia, está um dos maiores depósitos de lítio da Europa.
Demora no acordo com os EUA
Esse lítio pode se tornar parte do chamado acordo de terras raras entre a Ucrânia e os EUA. Uma tentativa inicial de negociações falhou em fevereiro, e ambos os lados ainda não conseguiram concordar com uma versão final do acordo. Na segunda semana de abril, entretanto, negociações em Washington foram apontadas por fontes ucranianas como "construtivas".
Detalhes não foram divulgados, mas a ministra da Justiça ucraniana, Olha Stefanischyna, disse em entrevista à televisão ucraniana de que isso é "sinal positivo" de que o tema está indo adiante.
A existência de lítio na Ucrânia é conhecida desde a década de 70. O depósito sob Polokhivske e Kopanki, porém, é o único que já foi analisado conforme os padrões atuais – todos os outros remontam à era soviética. Entretanto, o minério de lítio nunca foi extraído no país.
Nenhuma mineração de lítio à vista
Em 2017, a empresa ucraniana UkrLithiumMining recebeu permissão para explorar o depósito de Polokhivske. Segundo os levantamentos mais recentes, de 2018 e 2020, estima-se que o depósito abrigue 40 milhões de toneladas de lítio – o que faria dele o maior da Europa.
O diretor da empresa, Mykhailo Heichenko, disse na televisão ucraniana que os testes de perfuração iniciais, alguns dos quais com mais de 600 metros de profundidade, projetam a extração de até um milhão e meio de toneladas de minério por ano durante um período de 20 anos. A empresa, no entanto, não avançou mais, e de acordo com o município de Smoline, que inclui Polokhivske e Kopanki, nenhuma obra está sendo realizada no local.
O fato de os planos de mineração não estarem progredindo é uma preocupação para as autoridades locais. Já em 2023, os deputados do conselho do vilarejo descreveram as ações da UkrLithiumMining como insatisfatórias. "O conselho municipal de Smoline quer que a empresa intensifique seu trabalho aqui. Também pedimos à empresa que discuta questões sociais importantes para a comunidade. Mas, até agora, nada disso aconteceu", disse o prefeito de Smoline, Mykola Masura.
Um comunicado publicado no site da empresa em março afirmou que o depósito de Polokhivske pertence ao povo ucraniano, mas que a empresa recebeu uma licença para explorá-lo e pagou o equivalente a aproximadamente 2,6 milhões de euros por ele.
Receios de danos ambientais
Moradores locais com quem a DW conversou continuam esperançosos de que a mineração trará empregos para a região. Ao mesmo tempo, alguns temem as consequências ambientais. "Não somos contra", diz Tetjana, de Kopanki. "Mas precisamos garantir que não fiquemos sem água e estradas, e que nossa infraestrutura seja expandida. É claro que queremos que isso aconteça rapidamente e que o dinheiro flua para o orçamento do município."
O medo de que a água se torne escassa também é compartilhado pelo prefeito de Smoline, Mykola Masura. "Soubemos recentemente que a UkrLithiumMining planeja perfurar poços de profundidades variadas e usar a água para seus próprios fins. Isso seria uma catástrofe, pois os poços de água de pessoas em um raio de vários quilômetros poderiam secar. A água já está escasseando nos poços devido às mudanças climáticas e outros fatores, e os lagos também estão secando", aponta.
No segundo semestre de 2024, a UkrLithiumMining já havia comentado em seu site sobre possíveis consequências ambientais do projeto, afirmando ter examinado os impactos da exploração. Imediatamente após a publicação desta reportagem no site ucraniano da DW, a UkrLithiumMining declarou, por e-mail, que a captação de água para fins técnicos no caso da exploração do depósito de Polokhivka "não terá nenhum impacto nas fontes utilizadas pelo município".
Sobre a acusação de atraso nas obras, o comunicado afirma: "Em abril de 2024, a empresa concluiu o estudo preliminar de viabilidade, um marco fundamental no caminho para a exploração do depósito. A preparação da próxima fase importante – o estudo definitivo de viabilidade – está em curso."
Um acordo inédito – caso seja assinado
Até agora, quatro depósitos de lítio foram analisados na Ucrânia. Dois deles estão localizados nos territórios ocupados pela Rússia: o campo Kruta-Balka, na região de Zaporíjia, e o campo Shevchenko, na região de Donetsk. Os demais estão localizados no centro da Ucrânia – um perto de Polokhivske e outro perto de Dobra. Este último é considerado ainda mais promissor. De acordo com o geólogo ucraniano Bohdan Slobodyan, o local já foi investigado durante a era soviética e poderia ser duas vezes maior que o de Polokhivske. Entretanto, não há nenhuma pesquisa atual sobre isso.
No início de março, o jornal Financial Times informou que a empresa irlandesa TechMet tinha interesse em explorar o depósito de Dobra e que queria fazer uma oferta. Um parceiro de investimentos da TechMet é o bilionário Ronald Lauder, amigo do presidente dos EUA, Donald Trump.
De acordo com o jornal, esse poderia ser um dos primeiros projetos do acordo de terras raras entre os EUA e a Ucrânia – desde que seja assinado. Isso também poderia fazer avançar os planos de mineração de lítio em Polokhivske.