O que explica o aumento da rejeição a Tarcísio de Freitas?

Tarcísio de Freitas
Tarcísio de Freitas está em primeiro lugar nas intenções de voto Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A rejeição ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), subiu seis pontos desde maio, segundo apontou a pesquisa Quaest divulgada na quinta-feira, 21. Visto como um o principal nome para herddar o espólio de Bolsonaro, o ex-ministro da Infraestrutura do capitão reformado parece ter sido afetado pelos últimos acontecimentos do xadrez político brasileiro.

Enquanto em janeiro e março a rejeição ao governador permaneceu estável em 32%, o cenário começou a mudar a partir do segundo semestre do ano: a reprovação de Tarcísio frente à população foi de 33% para 39% em três meses (maio-agosto).

O aumento da rejeição ao governador Tarcísio de Freitas coincide com a escalada dos impases judiciais que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho ’03’, o deputado federal Eduardo (PL-SP).

Neste texto, a IstoÉ conversa com cientistas políticos para entender os possíveis fatores que influenciaram o aumento da rejeição ao governador de São Paulo.

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Rejeição a governadores bolsonaristas cresce

O que explica o aumento da rejeição a Tarcísio de Freitas?

Se a imagem política de Jair Bolsonaro (PL) mostra-se arranhada por processos jurídicos e afastamento da realidade eleitoral brasileira, figuras que se colocam a favor do ex-presidente também têm sido recusadas por boa parte da população.

Governadores bolsonaristas como Tarcísio, Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil) – São Paulo, Minas Gerais e Goiás, respectivamente – mantiveram suas posições como opositores da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seguem apoiando o ex-presidente, em maior e menor grau.

Mesmo com o tarifaço de Trump e a prião domiciliar de Bolsonaro, os mandatários mantiveram seus nomes associados ao ex-presidente, mesmo com ressalvaas e atritos internos, o que pode ter sido significativo para o aumento da rejeição aos governadores: de maio para agosto, a rejeição de Zema cresceu 11% e a de Caiado, 8%.

O especialista em pesquisas eleitorais e cientista político Renato Dorgan lembra que, ao mesmo tempo que arriscada, a associação ao bolsonarismo garante volume de votos. Um pedaço radical do eleitorado brasileiro se mantém fiel ao ex-líder e continua sustentando números nas urnas.

“Na balança de perdas e ganhos em uma eleição presidencial, Tarcísio precisa estar relacionado com Bolsonaro para não perder o eleitor mais radical à direita”, ressalta.

Tarifaço pode ter prejudicado Tarcísio

O que explica o aumento da rejeição a Tarcísio de Freitas?

A disputa diplomática entre Estados Unidos e Brasil, com clímax na imposição de tarifas sobre produtos nacionais, está ligada à defesa de Donald Trump ao aliado Jair Bolsonaro (PL), que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado pós-eleições de 2022.

De um lado, a base do governo conseguiu capitanear a narrativa sobre o tarifaço e reverter em uma nova bandeira federal: a defesa da soberania nacional. De acordo com o cientista político e professor da FESPSPE Henrique Curi, enquanto a postura rápida e firme do Poder Executivo agradou parte da população, a notícia de uma retaliação econômica assustou a ala à direita – muito ligada à classe de empresários.

“A política não suporta vácuo. Então, quando se tem um contexto político a ser ocupado, quem primeiro ocupa de forma qualificada, de forma convincente, acaba levando o prêmio. E nessa hora vimos a indecisão da oposição sobre como tratar a questão do tarifaço, ‘batendo cabeça’ internamente”, pontua Curi.

A divergência da direita sobre como agir frente às taxas pode ter desencadeado desconfiança dos cidadãos brasileiros, que – em sua maioria – receberam a ação de Trump de forma negativa. Tarcísio chegou a trocar provocações com Eduardo Bolsonaro, quando se mostrou disposto a negociar uma saída para a crise de forma paralela. O movimento, porém, fez com que o governador de São Paulo desagradasse tanto o eleitorado médio quanto os próprios aliados bolsonaristas, segundo aponta Renato Dorgan

“Tarcísio começou a apanhar de ambos os lados: tanto Eduardo Bolsonaro como Lula intensificaram os ataques ao governador, fato que, até então, não acontecia”, diz.

Anistia e violência policial em SP: o que mais contribuiu para reprovação de Tarcísio?

Outras pautas consideradas sensíveis também aparecem como possíveis catalisadores da rejeição ao governador de São Paulo. É o caso da anistia aos condenados pela suposta tentativa de golpe Estado, pauta adotada por aliados de Bolsonaro – como Tarcísio de Freitas.

Além de marcar presença em manifestações contra as penas impostas pelo STF aos envolvidos no 8 de janeiro e promover discursos públicos sobre o assunto, quando questionado sobre as formas que os Poderes poderiam agir para mitigar a crise interna e com o governo dos Estados Unidos, ele voltou a mencionar a votação da pauta.

De acordo com levantamento recente do Atlas/Bloomberg, mais da metade da população brasileira é contra a anistia aos condenados pela invasão da praça dos Três Poderes. Especialistas encaram que o governador procurava ter participação discreta na defesa da pauta, mas seguiu com o apoio devido ao compromisso com o bolsonarismo.

Mais uma questão associada à gestão Tarcísio diz respeito à alta da violência policial no estado de São Paulo. Não é de hoje que o governador é criticado pela forma conduz a polícia paulista, que registrou aumento de casos de hostilidade.

Segundo o levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que utiliza dados de 2024 e foi divulgado em julho deste ano, o estado de São Paulo lidera o aumento do número de mortes em decorrência de intervenções policiais em relação à população. O aumento em SP foi de quase 61%, quando comparado com 2023, ficando à frente de estados como o Rio de Janeiro e a Bahia.

Apesar disso, Curi considera que esse fator tem menor peso comparado às problemáticas de âmbito nacional, como a própria pauta da anistia. Para ele, a violência policial costuma ser uma crítica mais local, visada especificamente pelos moradores de São Paulo.

“É óbvio que a falta de segurança pública, principalmente em contextos eleitorais de alta magnitude, tende a ser uma variável importante, mas ela também tende a ser mais nichada para aquele eleitorado. Já a questão da anistia, sem dúvida alguma, acabou pesando. Porque era um assunto que tinha um potencial alto para ser um ‘tiro no pé’ “, explica o professor.

O que a pesquisa significa?

Mesmo que o aumento de seis pontos na rejeição em apenas três meses seja significativo, os especialistas ponderam que há “muita água pela frente” até as eleições de 2026.

Segundo Dorgan, Tarcísio ainda tem um alto índice de desconhecimento, possível de perceber em qualitativas fora do eixo sul Sudeste. O governador, porém, conseguiu melhorar as porcentagens e passou a ser mais conhecido do que era no começo do ano. Em janeiro de 2025, 45% das pessoas entrevistadas não o conheciam, passando para 34% em agosto.

“Na medida que aumenta o seu conhecimento nacional, a sua rejeição pode aumentar, assim como a intenção de voto”, prevê.

O professor Curi também entende que as avaliações são apenas um indicativo parcial para entender a relação dos políticos com a opinião pública, às vezes com capacidade de afunilar os candidatos com maior potencial.

“O Tarcísio cai, mas outras pessoas da oposição também caíram, então se pensa em uma espécie de clivagem da oposição mais à direita. Ainda assim, é muito cedo para a gente cravar a viabilidade eleitoral dessas pessoas. Tem muita água para passar debaixo da ponte”, finaliza.