Divergências são naturais numa democracia, mas unicamente quando a rivalidade fica no campo das ideias. Na medida em que as discordâncias extrapolam o bom senso e parte-se para ameaças e constrangimentos, como aconteceu esta semana com o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a democracia é golpeada perigosamente. Relator da Lava Jato e do habeas corpus preventivo do ex-presidente Lula no Supremo, Fachin revelou na quarta-feira 27 que ele e sua família estão recebendo ameaças. O ministro não detalhou as intimidações que vem sofrendo e não identificou de onde partem os ataques, mas é de se imaginar que estejam ligados ao julgamento que o STF realizará na quarta-feira 4 para decidir sobre a prisão do petista. “Nos dias atuais, uma das preocupações que tenho não é só com os julgamentos, mas também com a segurança de minha família, que têm recebido ameaças”, disse Fachin.

A presidente do STF Cármen Lúcia determinou que a PF aumente a segurança do ministro e proteja seus familiares no Paraná

O ministro relatou as intimidações à presidente do Supremo, Cármen Lúcia, pedindo a adoção de medidas de proteção não só para ele, mas sobretudo para seus parentes que moram em Curitiba. “Algumas providências que solicitei à presidente Carmén Lúcia e à PF, por intermédio da delegada que trabalha aqui no tribunal, já estão sendo adotadas. Nem todos os instrumentos foram agilizados, mas eu efetivamente ando preocupado com isso, e esperando que não troquemos fechadura de uma porta já arrombada também nesse tema”, enfatizou o ministro. Logo após o relato de Fachin, a ministra Cármen Lúcia determinou o deslocamento para Curitiba de duas delegadas da PF. Ordenou ainda que a diretoria-geral do STF ampliasse o número de seguranças da família do ministro no Paraná e autorizou o aumento do número de agentes para escolta permanente do ministro. A grande questão ainda sem resposta é o que e quem está por trás da ameaça a Fachin

“Inaceitáveis”

Classificando as ameaças como “inaceitáveis”, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, colocou a Polícia Federal à disposição do STF para investigar o caso. “É uma ameaça que alcança todo o Judiciário”, declarou Jungmann. O presidente Michel Temer disse, em entrevista à rádio BandNews, que “não se pode ameaçar um ministro da Suprema Corte”. Segundo Temer, a onda de violência e o clima de ‘uns contra outros’ se alastrou pelo País e chegou ao STF. Para cientistas políticos ouvidos por ISTOÉ, essas atitudes que resvalam no fascimo são completamente antidemocráticas. É possível não concordar com as decisões do Judiciário. O que não é tolerável é partir para constrangimentos de cunho claramente político e apelar para a violência. Não é por esse caminho sórdido que o País deve seguir.


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