O que esperar da nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia

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Os presidentes da Rússia e Ucrânia, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, respectivamente Foto: POOL/AFP

Esta quarta-feira, 23, será marcada por mais uma rodada de negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, que travam um conflito armado desde 2022. Representantes de ambos os países se reúnem em Istambul, na Turquia, para tratar de uma possível troca de prisioneiros – enquanto ataques feitos por drones se intensificam nos céus ucranianos.

As discussões serão lideradas pelo secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Rustem Umerov, que também mediou as duas sessões anteriores. Analistas internacionais, porém, encaram a situação como uma formalidade diplomática, com poucas esperanças em relação a um acordo definitivo de paz.

Neste texto, a IstoÉ explica o que esperar da nova fase de negociações sobre a guerra no Leste Europeu.

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Histórico de negociações anteriores

Outras duas negociações foram realizadas, também na Turquia, em 16 de maio e 2 de junho. Nas ocasiões, não houve grande progresso sobre um cessar-fogo definitivo, mas milhares de prisioneiros de guerra foram trocados e restos mortais de soldados foram devolvidos.

Segundo o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Laerte Apolinário, as rodadas anteriores foram marcadas por “forte tensão e poucos avanços concretos”. Ele explica que ambas as delegações saíram frustradas, principalmente pela resistência dos dois lados em ceder suas posições.

“A nova rodada tende a seguir a mesma linha, de diálogo limitado, com foco em medidas paliativas”, avalia.

Em consonância, o professor de relações internacionais da ESPM, Gunther Rudzit, também acredita que as negociações desta quarta-feira continuarão em ritmo semelhante às anteriores. Para ele, nenhuma das partes está disposta a ceder, mas ainda precisam se mostrar abertas diplomaticamente para manter interesses particulares.

“O governo ucraniano entendeu que tem que se mostrar favorável a uma negociação para ter o apoio de [Donald] Trump, e o governo russo parece que também começou a entender que tem que parecer favorável uma negociação para tentar culpar a Ucrânia de não fechar um acordo”

Perspectivas do novo encontro

Apesar da reunião entre representantes russos e ucranianos ser uma avanço diplomático, internacionalistas não enxergam a ocasião como uma grande promessa de paz. Para Laerte, as expectativas da nova rodada de negociações são “modestas”, com mais foco em ações humanitárias e criação de confiança.

“Umerov tem adotado uma postura pragmática, priorizando temas humanitários, como a troca de prisioneiros, retorno de crianças deportadas e a preparação para um eventual encontro entre líderes. Não se trata ainda de discutir um cessar-fogo amplo, mas sim de tentar construir confiança mínima entre as partes.

O próprio Kremlin já sinalizou que os objetivos dos acordos continuam os mesmos – ou seja, a Rússia exige que a Ucrânia saia totalmente dos territórios anexados e que abra mão da sua candidatura à OTAN, o que Kiev não aceita.

‘Fator Trump’ e possibilidades de um cessar-fogo

Uma vez que o conflito também é influenciado por forças internacionais – especialmente em relação à Ucrânia, que depende de recursos ocidentais para se manter viva na guerra – , a política estadunidense parece “dar o tom” das dinâmicas diplomáticas dos dois países. Desde que voltou à cadeira da presidência, Donald Trump indica que o apoio ao ucraniano Volodymyr Zelensky não é responsabilidade dos EUA e já se mostrou disposto a conversar com o líder russo Vladimir Putin, o que desagrada a União Europeia.

“Acredito que as promessas de Trump de negociar diretamente com Putin e de revisar o apoio militar à Ucrânia têm enfraquecido a posição ucraniana à mesa e encorajado o Kremlin a adotar uma postura mais ofensiva nos últimos meses”, sugere o professor Laerte.

O professor Gunther ressalta, porém, que a gestão de Trump deve continuar com ajuda bélica no conflito, mesmo que indiretamente: “O governo americano vai seguir com esse padrão que estabeleceu recentemente, de vender equipamento militar para os países da OTAN, e os europeus transferem para a Ucrânia, aponta.

De todo modo, os dois especialistas concordam que as expectativas de um cessar-fogo definitivo são muito baixas. Na visão de ambos, as medidas que podem resultar da reunião desta quarta-feira serão, no máximo, de cunho humanitário ou soluções paliativas.

“Espero estar errado, mas acredito que um cessar-fogo ainda não está próximo. Apesar do desgaste militar e humanitário, especialmente após a intensificação dos ataques com drones, nenhum dos lados vê vantagem estratégica em parar agora. A Rússia busca consolidar seus ganhos territoriais, enquanto a Ucrânia segue insistindo na pressão internacional e no desgaste russo”, lamenta Laerte.