E não é que o sistema de informações do Planalto funciona? Talvez não da maneira como interessaria ao presidente Jair Bolsonaro, que sente falta de um serviço permanente de monitoramento dos adversários, com atenção especial para qualquer coisa que possa incomodar sua família. Mas funcionar, ele funciona.

O Estadão traz reportagem na sua edição online mostrando que a Abin, a agência federal de inteligência, alertou o governo em 13 de maio para o risco de haver caos em cemitérios país afora, por causa da Covid-19. O caos de fato se implantou em cidades como Manaus. Dias atrás, com base nos mesmos relatórios, o jornal já havia revelado que também existiram alertas sobre a aceleração da epidemia no Brasil e a mais do que provável subnotificação de casos.

Esse tipo de informação, pelo jeito, não interessa. Não serviu para que o presidente em um milímetro sua maneira de agir. Hoje ele esteve em Goiânia para inaugurar o primeiro hospital de campanha a ser entregue pelo governo federal. Anunciou que vai isentar do imposto de importação quem quiser comprar armas no exterior, mas não teve uma palavra de incentivo para os profissionais de saúde engajados no combate à doença ou de conforto para as famílias das vítimas.

A única mudança perceptível na maneira como o governo enfrenta o coronavírus foi esta: reduziu-se a transparência na divulgação dos números diários da pandemia. O Ministério da Saúde atrasou para as 22h a liberação dos dados, provavelmente para evitar que o número de mortos seja mostrado nos telejornais noturnos. E as redes de comunicação oficiais da presidência nem sequer mencionam mais os mortos, dando destaque apenas aos curados. Como se isso alterasse a realidade.

O presidente é um discípulo fiel da doutrina Ricúpero de comunicação pública: “O que é bom a gente fatura; o que é ruim a gente esconde.”