Na terça-feira, 12, Wanessa Camargo assumiu ter cometido racismo estrutural contra o baiano Davi enquanto estava confinada no “BBB24“.

Em vídeo publicado no Instagram, a artista confessa que algumas de suas falas e comportamentos no reality se enquadram na nomenclatura. “Eu não tenho medo de me olhar no espelho, reconhecer, aprender”, disse, ao pedir desculpas a Davi, à família do participante e a “todas as pessoas negras que se sentiram machucadas e ofendidas”.

Veja:

 

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por Wanessa Camargo (@wanessa)

 O que é racismo estrutural?

Mas afinal, existe alguma diferença entre “racismo” e “racismo estrutural”? Para isso, é preciso especificar a definição de racismo, que no dicionário Michaelis é:

  1. Teoria ou crença que estabelece uma hierarquia entre as raças (etnias);
  2. Doutrina que fundamenta o direito de uma raça, vista como pura e superior, de dominar outras;
  3. Preconceito exagerado contra pessoas pertencentes a uma raça (etnia) diferente, geralmente considerada inferior;
  4. Atitude hostil em relação a certas categorias de indivíduos.

Em seu livro “Racismo Estrutural”, o o advogado, filósofo e professor universitário Silvio Almeida explica que a nomenclatura é “uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios”.

Isso significa que, na prática, indivíduos estão suscetíveis a praticar e/ou sofrer racismo estrutural em decorrência da dinâmica do cotidiano.

A escritora, influenciadora digital e ciberativista Triscila Oliveira explica: “O racismo estrutural é um conglomerado de ações que fazem a manutenção do sistema de opressão racial por uma pequena parte da sociedade, esse sistema chamado branquitude — pessoas que se veem em um pedestal imaginário de supremacia sobre outros grupos que são minorizados.”

Wanessa Camargo cometeu racismo?

Sobre a fala de Wanessa, Triscila opina: “É muito comum e cômodo que pessoas brancas, que detêm o privilégio de raça e às vezes até de classe, joguem algo que fizeram ou falaram na conta do ‘racismo estrutural’. Assim vai se retroalimentando a estrutura, porque ela se isenta do racismo colocando a culpa no racismo.”

E Thais Bernardes, jornalista e fundadora do “Notícia Preta” e da Escola de Comunicação Antirracista, complementa: “Culpabilizar o racismo estrutural por ações individuais é uma forma de não assumir que é racista. Se entender racista é o primeiro passo para pensarmos em mudanças.”

Segundo a jornalista, dizer que cometeu racismo estrutural coloca Wanessa “em um lugar de vítima de um sistema que não foi criado por ela, mas do qual ela usufrui”.

Wanessa não reproduz algo, ela reforça o que pra ela é natural e faz sentido. Ao dizer: ‘Já conseguiu a faculdade, o que tá fazendo aqui?’, ela vê Davi como os negros eram vistos no século XVIIII, quando ter acesso ao estudo não era algo destinado aos negros. Se já conquistou algo que não tinha direito, ele já estaria no lucro, segundo ela — Thais Bernardes

E Triscila completa: “Todo mundo cruza os braços e não faz nada para mudar. A gente continua em um looping de opressão sem sair do lugar. Muita gente não quer fazer a mínima autocrítica de se olhar no espelho e entender que uma fala, uma ação sua está estruturando e fazendo a manutenção de todo o sistema de opressão de raça, de classe, de gênero.”

Por fim, Thais pontua: “Ver o Davi como uma pessoa agressiva e sem acesso a direitos que historicamente foram acessíveis apenas para pessoas brancas é um pensamento racista. Mas por medo de usar a palavra ela usa de uma ‘estrutura’, da qual ela se beneficia, para justificar o injustificável. Tanto se beneficia que um vídeo dela vira assunto, ela aparece na mídia como uma pessoa que quer evoluir e aprender e não como uma pessoa que cometeu falas e posturas criminosas. Afinal, racismo é crime.”