Durante a corrida para a presidência dos Estados Unidos, o termo “woke” foi amplamente visado como pauta eleitoral, especialmente entre os republicanos – grupo partidário de Donald Trump.

A palavra “woke” vem do verbo em inglês “wake”, que significa acordar. Ela já era utilizada anteriormente pela comunidade afro-americana, a fim de descrever o ato de estar consciente sobre as injustiças sociais.

Nos últimos anos, a expressão ressurgiu com o movimento “Black Lives Matter”, que procura denunciar a violência racial sofrida por pessoas negras em diferentes níveis da sociedade – seja no âmbito policial, jurídico ou político. Essa nova popularização alargou a abrangência da palavra e passou a definir diferentes agendas e movimentos sociais, particularmente aqueles alinhados à esquerda.

Em 2017, o dicionário inglês Oxford descreveu “woke” como “estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo”.

Para os conservadores, porém, o termo tem significado pejorativo. “Woke” é usado para se referir a qualquer pessoa com posicionamentos políticos progressistas que, na visão dos republicanos, representam um ativismo extremista e desnecessário. Isso inclui aqueles que defendem perspectivas feministas, antirracistas, favoráveis à comunidade LGBTQIAP+, ao aborto, à vacinação, uso de pronomes neutros e ativismo ambiental. A avaliação dos republicanos é de que a “cultura woke” teria uma lógica coercitiva, policiando a linguagem e os costumes da população para impor um julgamento moral que, em última instância, danifica os “bons valores” da nação.

Com essa generalização do termo, as políticas defendidas pela comunidade “woke” passaram a ser automaticamente associadas ao Partido Democrata – adversário de Trump. Dessa forma, enquanto parte dos cidadãos americanos sentem orgulho do título, admitindo estarem defendendo temáticas liberais e de justiça social, a parcela mais conservadora classifica o movimento como um exagero prejudicial ao país.

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Trump e Forças Armadas

Trump, o mais novo presidente eleito dos EUA, é conhecido por ser um dos principais opositores da “agenda woke” no país. Ao longo da campanha, o líder republicano prometeu combater essa pauta em diferentes escalas da esfera pública. Em uma entrevista à “Fox News’, após ser perguntado sobre os militares descritos como “woke” Donald Trump declarou que demitiria os servidores públicos aliados à tal agenda.

“Eu os demitiria. Você não pode ter um militar ‘woke’”, respondeu o republicano.

Em 2019, durante seu mandato, Trump já havia excluído integrantes transgênero do serviço militar, sob alegação de que os EUA não teriam um exército “woke”. Atualmente, um dos principais nomes cotados como alvo dos conservadores seria o de C.Q. Brown – chefe de Estado-Maior Conjunto da Força Aérea e militar altamente respeitado. Brown é um homem negro e tem sido ativo na defesa da diversidade dentro das Forças Armadas.

Diversos ex-generais e antigos chefes de Defesa de Donald Trump tecem críticas ao republicano eleito, afirmando que ele seria completamente “impróprio para o cargo” e teria posturas fascistas.

Brasil

No Brasil, a expressão também ganhou popularidade entre o público mais conservador. O tema se destacou de forma intensa nas redes sociais e pessoas associadas à direita adotaram o estrangeirismo “woke” para criticar posicionamentos progressistas que buscam dar foco à questões de justiça social, gênero, raça e sustentabilidade, por exemplo.

Um grande representante dessa parcela eleitoral no Brasil é o ex-presidente Jair Bolsonaro, que já expôs apoio a Trump em inúmeros momentos. Recentemente, Bolsonaro condenou as questões da prova do Enem 2024 (Exame Nacional do Ensino Médio) pelo fato de abordarem assuntos sociais – atitude que o membro do PL definiu como “imposição da agenda woke”.

Entre os temas discorridos na prova, estão conteúdos sobre inclusão racial, social e multiculturalismo, além da proposta de redação, que abordou os “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Por meio de um post na rede social X, Bolsonaro classificou a escolha dos tópicos como uma forma de “moldar a maneira de pensar dos jovens do país.”