O que diz a decisão que embasou a operação no RJ que deixou 121 mortos

Operação levou pelo menos 75 dias para ser organizada

O que diz a decisão que embasou a operação no RJ que deixou 121 mortos

A denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que embasou a decisão da 42ª Vara Criminal de autorizar a megaoperação deflagrada no Complexo do Alemão na terça-feira, aponta que o crime organizado se estruturou de forma hierárquica e armada para controlar ao menos 12 comunidades da zona norte da capital carioca e liderar uma expansão territorial para outras regiões.

O inquérito foi aberto pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) com base em uma denúncia recebida em 2024. A operação levou 75 dias para ser organizada e tinha como objetivo cumprir dezenas de mandados de prisão contra suspeitos de integrar o Comando Vermelho (CV). A ação deixou mais de 120 mortos e se tornou uma das mais letais da história do Rio de Janeiro. Os documentos da investigação foram obtidos por veículos de imprensa como Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo.

O conjunto probatório partiu de mensagens e dados em nuvem obtidos em aparelhos celulares apreendidos. Segundo os investigadores, o material mostra a existência de uma “cadeia de comando rigidamente estabelecida e cumprida, com emissão de ordens, além de punições severas aos descumpridores das diretrizes”.

Ao autorizar os mandados de prisão, o magistrado da 42ª Vara Criminal cita indícios de autoria e prova da materialidade dos crimes de tortura e associação para o tráfico de drogas.

Mensagens mostram organograma do crime organizado

Mensagens de celular obtidas pelos investigadores mostram que a organização criminosa funcionava sob um organograma definido, com funções distribuídas entre os integrantes.

Por meio de aplicativos como o Whatsapp, os suspeitos emitiam ordens de execução e tortura, organizavam turnos e pagamentos de soldados armados, bocas de fumo, monitoramento de viaturas e compra de veículos roubados.

Um dos objetivos da operação era prender Edgard Alves de Andrade, o Doca, considerado pelos investigadores como o principal líder do CV em liberdade, e Pedro Bala. Eles são apontados pelo MP como os chefes do tráfico na região.

Indícios de tortura e execuções

As trocas de mensagens obtidas pela Polícia Civil também revelam a existência de um grupo chamado “Sombra”, que organizaria punições e torturas a moradores nos tribunais do tráfico – supostamente realizadas na Serra da Misericórdia, região de mata que concentrou os confrontos com policiais nesta terça-feira.

O grupo ainda seria responsável por contratar matadores de aluguel e treinar soldados do tráfico como parte de um esforço de expansão do CV para a zona oeste do Rio de Janeiro, na Grande Jacarepaguá.

Imagens dispostas na denúncia mostram execuções que teriam sido ordenadas após perdas de carregamentos de drogas, além de cenas de tortura, com vítimas acatando a própria execução para encerrar o sofrimento.

Em um dos casos, um vídeo mostra um homem algemado e amordaçado sendo arrastado por um carro para forçá-lo a confessar uma delação. Em outra cena anexada ao documento, uma mulher é colocada em uma banheira com gelo por “arrumar confusão no baile”.