Se o documentário “Democracia em vertigem” ganhar o Oscar, Bolsonaro será o garoto-propaganda premiado. Os comentários do presidente jogaram ainda mais os holofotes do mundo sobre o trabalho de Petra Costa. E isso é bom para o Brasil.

O efeito combinado entre o anúncio da Academia de Hollywood e os comentários do Planalto foi impressionante. As buscas internacionais no Google por “Democracia em vertigem” dispararam 4,4%. Tanto quanto a inflação ajustada do salário mínimo (4,48%). Sempre há uma conexão direta entre o que um político importante fala e o que a economia responde.

Afinal, para quem não gosta do que come o urubu, ficar falando de bosta pode nem ser tão burro assim. Por uma vez, comprar briga com o pessoal da cultura está sendo legal para as finanças públicas. Contrariar a cultura e sair triunfando no Google é uma inovação extraordinária. Desta vez, o feitiço foi ainda melhor que o feiticeiro!

Falando sério, até parece coisa de macumba. Sempre que surge uma notícia boa, logo a desastrada gestão de comunicação do Planalto — será que há uma — se encarrega de encrencar a agenda pública. Nesta semana, há muito o que celebrar. Na economia, nas reformas e até na cultura. A possibilidade de o Brasil ganhar finalmente um Oscar é boa para todos, mesmo para os que agora falam de ficção para a ave necrófaga. Quando a poeira assentar, o que ficará para a história não será o viés político com que uns e outros no Brasil olham e comentam o documentário de Petra.

O que vai sobrar no futuro é o fato de a indústria do entretenimento brasileira entrar para o clube dos países oscarizados — o que é uma proeza.

As notícias mais importantes são as do futuro, não as do passado. É essa a matéria-prima da esperança. Por isso, todo o tempo gasto falando de porcarias e alimentando debates inconsequentes é inútil. Não acrescenta nada, apenas divide ainda mais as pessoas e ajuda esse clima maniqueísta — onde quem não é por mim, é contra mim — que tem dominado a cena política, liderando as audiências e piorando o cenário.

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Finalmente, o que será mais importante? Ficar discutindo se um documentário é um drama ou um show de horror? Saber se o livro “Tormenta”, de Thais Oyama, é uma sessão espírita onde jornalistas leem os pensamentos de políticos? Ou explicar para brasileiras e brasileiros quais as razões por trás do aumento do salário mínimo ou o que pode mudar na vida de todos com a entrada do Brasil na OCDE?

A possibilidade de uma produção brasileira ganhar um Oscar seria boa para todos. Quando a poeira baixar, não será o viés político que interessará, mas sim o reconhecimento internacional

 


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