O fascínio pela arte poderia justificar o reiterado roubo do quadro “Dois Garotos Sorrindo com uma Caneca de Cerveja”. A pintura, elaborada provavelmente em 1628, do artista belga Frans Hals, ainda não foi reencontrada após a terceira gatunagem, em agosto de 2020. A tela estava no Museu Hofje van Mevrouw van Aerden, na cidade de Leerdam, Holanda. No entanto, a admiração é apenas um dos componentes, talvez o menos importante. A facilidade com que a obra pode render retorno financeiro aos ladrões parece ser a explicação mais plausível. Avaliada em mais de US$ 10 milhões, a tela pode servir para extorquir seguradoras ou garantir uma poderosa moeda no submundo do crime onde seu valor é de cerca de U$ 3 milhões. “Eles sabem que podem tirar dinheiro de alguém”, afirmou o fundador da Art Recovery, Christopher A. Marinello.

Preservada do desejo nazista, a pintura foi roubada pela primeira vez em 1988. O ladrão fez refém o gerente do museu que abriu as portas para a subtração. Três anos mais tarde o quadro foi recuperado com o pagamento de resgate de US$ 250 mil, realizado pelas autoridades holandesas e pela seguradora. Anos mais tarde, em 2011, testemunhas viram um carro – acreditam ser BMW ou Mercedes – com o motorista fugindo com o quadro. Em cinco meses, a polícia prendeu quatro homens que negociavam a devolução da pintura com uma seguradora por US$ 2 milhões. Na última ocorrência, em 2020, os ladrões usaram uma corda para entrar no museu e fugiram de scooter, conforme relato da polícia. O historiador Diego Amaro diz que há um fetiche na posse de obras arte, além da garantia de status. “Mas se existe o roubo, é porque existem pessoas interessadas”, afirma. A reincidência no crime criou o mistério em torno das pinceladas de Frans Hals, que poderiam guardar um segredo, algo como um mapa do tesouro. Antes do enigma ser solucionado, porém, o quadro precisa ser reencontrado.