Quem viu as imagens do empresário Carlos Alberto Bettoni, de 56 anos, sendo empurrado na direção de um caminhão em movimento, no último dia 5, se espantou com a brutalidade da cena. Junto com outros manifestantes, Bettoni vaiava e xingava os membros da cúpula do PT que saiam de uma reunião no Instituto Lula, em São Paulo, logo depois da prisão do ex-presidente ter sido decretada. Acabou sendo selvagemente atacado pelo ex-vereador de Diadema Manoel Eduardo Marinho, conhecido como Maninho, pelo seu filho Leandro Marinho, metalúrgico desempregado, e pelo diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulo Caires, o Paulão. Os três perseguiram o empresário com empurrões, socos e pontapés e, cheio de fúria, Maninho deu o golpe derradeiro que levou a vítima a bater a cabeça no pára-choque do caminhão e tombar desacordado junto a uma poça de sangue. Desde então, com traumatismo craniano, Bettoni está internado na UTI do Hospital São Camilo em estado grave, sem previsão de alta e com quadro de confusão mental.

Maninho, por enquanto, escapou de uma acusação de tentativa de homicídio, mas o MP pode mudar esse entendimento

Maninho, por enquanto, escapou de um indiciamento por tentativa de homicídio, mas o Ministério Público, que receberá o inquérito nos próximos dias, pode mudar esse entendimento. Sua atitude mostrou que ele aposta na pancadaria como solução para calar seus adversários. A polícia, inicialmente, registrou o caso como lesão corporal grave e dolosa, que rende de um a cinco anos de prisão, mas uma eventual complicação do estado de saúde de Bettoni pode mudar a lesão para gravíssima, com penas de 2 a 8 anos de reclusão. “O vídeo é uma prova consistente, mostra toda a ação delitiva e as imagens falam por si”, afirma o delegado Wilson Zampieri, titular do 17º DP, onde o crime está sendo investigado. “A provocação feita pela vítima não é justificativa para um ato de violência extrema”. Maninho é primário, mas, segundo Zampieri, isso não garantirá qualquer benevolência para ele no inquérito e no julgamento. As chances de amargar um tempo de cadeia são consideráveis. O filho Leandro será tratado com o mesmo rigor. A dupla conta com quatro advogados de defesa. Em nota divulgada à imprensa, eles disseram que seu cliente lamenta o ocorrido e que ele e sua família vêm sofrendo “hostilização e retaliação de parte da população, por conta das vinculações feitas pelas mídias, onde está sendo reproduzida somente uma parte da situação”. A nota diz também que o que aconteceu com Bettoni foi uma “fatalidade”. O que se viu, porém, foi uma agressão intencional. Quando foi atacado, o empresário, que é dono de um estacionamento no Brás, tinha acabado de sair do podólogo e usava chinelos. Não estava preparado para qualquer enfrentamento. Decidiu parar no caminho por curiosidade para acompanhar o movimento da imprensa e de políticos do PT, entre eles o líder do partido no Senado, Lindbergh Farias, que se formava em frente ao Instituto Lula. Acabou se empolgando e partiu para a ofensa.

Segundo sua mulher, Terezinha Quaresma, o empresário sempre foi anti-petista, mas não é militante de qualquer partido e nem gosta de brigas. “Ele não imaginou que corria o risco de ser espancado e entrou de gaiato na situação”, diz. “Meu marido não revidou, acenou com as mãos dizendo para os agressores se afastarem, mas eles foram para cima”. Na queda, Bettoni fraturou o osso parietal esquerdo. Sua sorte é que o hospital fica a 100 metros do local do crime e ele foi prontamente atendido. Passou por uma cirurgia e enfrentou uma amnésia temporária, mas sua condição geral exige cuidados intensos. “Vi na cena uma reação desproporcional e uma tentativa de homicídio”, afirma Terezinha. “Só espero agora que o agressor seja realmente punido”.

Maninho foi operário metalúrgico, cresceu no sindicato e foi um dos fundadores do PT em Diadema, em 1980. Passou 20 anos como vereador na cidade, exerceu cinco mandatos consecutivos e foi presidente da Câmara por três vezes. Só se desligou do cargo legislativo porque decidiu se lançar para prefeito nas eleições de 2016 e perdeu. Atualmente, é membro da executiva estadual do PT e trabalha como assessor parlamentar do deputado estadual do partido Teonílio Barba. Teoricamente, Maninho deveria ser um exemplo de boa conduta e mostrar a imagem que o partido quer ter, seja ela agressiva ou negociadora. Se depender dele, uma liderança histórica do PT, parece que tudo converge para o caminho da violência.