Depois que Ciro Gomes quase foi atingido por sarrafos voadores numa manifestação de esquerda neste fim de semana, Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad rapidamente repudiaram a tentativa de agressão em nome do PT.

As palavras de ambos têm valor escasso. É fácil condenar gente sem nome e sem rosto. Relevante mesmo teria sido uma rejeição enfática ao presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, e outros representantes da sigla.

Segundo uma reportagem da Folha de S. Paulo, Pimenta disse o seguinte sobre a investida contra Ciro: “O PCO não deliberou fazer isso aí nem nada, mas por uma questão tática. Não que a gente não gostasse de fazer. Mas o pessoal foi lá e fez? Eu defendo o pessoal que foi lá e fez.”

Os petistas, no entanto, não vão recriminar Rui Pimenta, nem farão nada que estremeça suas relações grupos de esquerda, por mais radicais que sejam, até as eleições de 2022. Não lhes interessa criar atritos com quem luta pela mesma causa, qual seja, devolver Lula ao Planalto.

Antônio Costa, outro diretor nacional do PCO, qualificou de “natural” o ataque a Ciro Gomes, tendo em vista as críticas ácidas que ele tem feito a Lula. Gleisi e Haddad não vão arranjar briga com quem pensa assim.

Há também uma razão histórica para que qualquer reação petista a ações radicais de esquerda, se houver, fique no plano das generalidades. O partido dominado por Lula sempre sufocou as dissidências internas. Mas nunca ergueu a voz contra grupos ou partidos que lhe sirvam de satélite, ainda que eles recorram até mesmo à violência.

É que esses grupos ou partidos têm uma função. Servem de leões de chácara. São ferramentas de intimidação. Lembremos que Lula, não faz muito tempo, sugeriu que João Pedro Stédile, líder do MST, “colocaria seu exército na rua” para defender o governo de Dilma Rousseff, quando isso fosse necessário.

A violência faz parte do imaginário da esquerda. Afinal, sem ela, como virá a revolução? Lula e o PT descobriram a utilidade de manter por perto essa gente que sonha com um mundo inteiramente transformado, enquanto, aqui e agora, eles exercem o poder.

CIRO GOMES – O candidato pedetista à presidência vai jogando as suas cartas.

Em 12 de setembro, esteve na Avenida Paulista para participar da manifestação organizada pelo MBL, grupo que se diz arrependido de ter apoiado Bolsonaro nas últimas eleições e tenta fazer um rebranding, posicionando-se à centro-direita.

No último sábado, lá estava Ciro novamente, agora num evento da esquerda. Ser alvo de agressão foi bom para ele: a vítima sempre é vista com simpatia.

Também foi esperta a sua reação. Ele atribuiu as agressões a uma minoria e propôs uma trégua ao PT, até o final do ano, para que todos se concentrem em uma causa comum: conseguir o impeachment de Bolsonaro.

Desse jeito, Ciro se posiciona como alguém que consegue transitar entre a esquerda e a direita – a própria encarnação de um candidato centrista.

Ele também se cacifa como um protagonista da causa do impeachment.

Esse é um calcanhar de aquiles do PT. Além de não ter feito nada para desencadear um processo contra Bolsonaro no Congresso, o PT pouco falou do assunto ao longo dos meses.

A razão é conhecida: as pesquisas indicam que as chances de Lula derrotar Bolsonaro em 2022 são grandes, ao passo que um outro adversário poderia bagunçar o tabuleiro e lhe criar dificuldades.

O PT parece ter concluído que essa estratégia tem riscos. Daqui para frente, deve esforçar-se para vender a história de que desde sempre trabalhou para ejetar Bolsonaro do Planalto.

Ciro, passada a tal trégua, estará lá para desmenti-los.

Vai servir para levar o pedetista à presidência? É improvável. Mas ele está fazendo política.