Geraldo, casado, dois filhos, aos 48 anos está desempregado.

Desemprego é dureza.

Geraldo já passou pelas três fases as quais passam todos os desempregados.

A primeira começa por acordar cedo, refazer o currículo e enviar o arquivo para todos os amigos e sites.

Sofia, a mulher de Geraldo, do lar, não concorda com a estratégia do marido.

— Amore, você precisa sair de casa. Precisa ir atrás. Emprego não cai do céu.

Demorou, mas Geraldo concordou.

Passou para a segunda fase: bater perna.

Pegou tudo que foi endereço das firmas que conhecia e foi à luta.

Na maioria das vezes, não passou pela recepcionista, que ficava com seu currículo para enviar para o RH.

Não adiantou nada. Nenhum email. Nenhum WhatsApp. Nenhum telefonema.

A terceira fase é quando o sujeito desiste e, descrente, joga para o céu.

Geraldo, depois de oito meses sem dar sorte, passou por essa fase também.

— Ah, Sofia, do jeito que vai esse País eu tô encrencado. Ninguém vai dar emprego para mim, ainda mais nessa idade.

Sofia nem respondeu.

Na verdade, concordava com Geraldo.

O País estava desse jeito mesmo e ele, coitado, não era mais um garoto.

Mesmo assim, até por falta de opção, Sofia tentava motivar o marido:

— Amore, você nunca foi assim! Não pode desistir. Se não está arrumando nada, vamos ser criativos. Vamos inventar alguma coisa!

Mas Geraldo estava desanimado.

E ver as notícias o deixava ainda pior:

— Olha aí Sofia – falava vendo o Jornal Nacional – com esses candidatos fico até com menos esperança. Não tem jeito mesmo…

Foi assim por mais três meses. Desanimo total.

Um dia, Geraldo, que andava até acordando depois do almoço de tanto desânimo, acordou às sete e meia.

Sofia, que já estava de pé arrumando o café da manhã dos meninos, se surpreendeu quando viu o marido entrar na cozinha com seu melhor terno.

— Que é isso amore? Tem entrevista de emprego hoje?

— Não.

— Então porque tá nessa estica?

— Você não disse que eu tinha que ser criativo? Então…

— Então o que, amore?

— Decidi virar a mesa. Vou lançar minha candidatura para presidente.

Os meninos vibraram.

Sofia nem respondeu.

Estava convencida que o marido tinha ficado maluco.
— Mas amore… como assim?

— Assim o que? Vou ser candidato, ué. Se a montanha não vem a Maomé…

— Mas Geraldo… você não entende nada de política.

— E o Moro? Também não entendia nada, é ou não é?

— Mas você nem é formado, nem nada…

— O Lula também não.

— Geraldo, amore, não quero ser pessimista, mas você não entende nada de Economia, de Saúde, de Cultura.

— Ah tá. E o Bolsonaro entende, né?

— E… e… você tem que admitir que um candidato não pode perder a paciência muito fácil, desculpe eu dizer…

— Tá bom. O Ciro é calminho, né? Não é também. Se eles podem, eu também posso.

Se o Planalto não vai até Geraldo, Geraldo vai até o Planalto

Sofia nem respondeu.

Ficou olhando para o marido, confusa.

— Amore… tem o dinheiro também… uma campanha custa uma fortuna, Geraldo!

— Vou fazer minha campanha pelo WhatsApp e pelo Twitter. Já deu certo uma vez.

Quando Geraldo saiu de casa, Sofia correu para ligar para a mãe, para contar a maluquice do marido.

— Mãe, o Geraldo ficou maluco! Disse que vai se candidatar para presidente!

— Nossa filha! Que boa notícia! Avisa a ele que tem o meu voto, certeza!

— Mas mãe, o Geraldo não tem nenhuma chance!

— Ah tá, e a terceira via tem, né minha filha?

Sofia nem respondeu.