Na terça-feira 1, Jair Bolsonaro pôde, enfim, envergar a faixa presidencial, depois de 28 anos como deputado federal, dois turnos de campanha e uma facada no abdômem. Porém, na hora de expressar toda a sua emoção ao público, no Parlatório do Palácio do Planalto, ele teve de aguardar alguns minutos. Entrava em cena a fulgurante primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ao antecipar-se ao marido e se manifestar em Libras, a linguagem de sinais usada pelos que têm deficiência auditiva, a aparentemente discreta, mas determinada mulher do presidente, atraiu os holofotes demonstrando que não pretende cultivar o papel de coadjuvante. Deixou claro que está disposta a ter uma participação ativa, especialmente nas questões sociais e nas causas voltadas aos portadores de deficiência.

O discurso de Michelle de Paula Firmo Reinaldo, o nome de batismo da moradora de Ceilândia, cidade de população pobre que fica a 26 quilômetros do Palácio do Planalto, quebrou completamente o protocolo. Foi a primeira vez na história que um pronunciamento inverteu-se de tal forma. Baseado na linguagem de sinais e traduzido em fala pela intérprete, galvanizou a plateia presente. “É grande a satisfação e o privilégio de poder contribuir e trabalhar para toda a sociedade brasileira. Tenho esse chamado no meu coração. E desejo contribuir na promoção do ser humano. Agradeço meu amado esposo, o nosso presidente, para quem peço o apoio de todos vocês”. Contagiado, o público sugeriu uma nova quebra de protocolo. “Beija, beija!”, gritou a população. E os dois consumaram o ato, para o deleite de todos.

O interesse de Michelle pela causa dos deficientes auditivos e pela língua de sinais surgiu porque ela tem um tio surdo. Ela aprendeu a linguagem para se comunicar com ele. Na Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro, que frequenta, ela passou a atuar no Ministério dos Surdos, batizado de Incluir. Durante a transição, ela procurou saber junto ao antigo Ministério do Desenvolvimento Social o que já existe de programas para portadores de deficiência. Trabalha agora na elaboração de projetos destinados à causa das necessidades especiais. Michelle pretende alinhar-se ao perfil das primeiras-damas de participação mais ativa, como Ruth Cardoso, que no governo Fernando Henrique chefiava o programa Comunidade Solidária e iniciou as iniciativas que, reunidas, resultaram no Bolsa Família.

Não foi apenas o pronunciamento em Libras que fez Michelle se destacar na posse. Os vestidos que usou em toda a cerimônia de transmissão de cargo e na recepção aos chefes de Estado no Itamaraty foram elogiados por todos e agora ainda renderão um bom dinheiro. As roupas serão leiloadas e os recursos revertidos para instituições de caridade. A estilista Marie Lafayette, que idealizou os vestidos, inspirou-se nos modelos que eram usados pela princesa de Mônaco Grace Kelly e pela mulher do ex-presidente americano John Kennedy, Jaqueline. Na posse, Michelle usou um modelo rosê acetinado que deixava seus ombros nus. Justamente para que os braços ficassem totalmente livres para o discurso de sinais. No Itamaraty, ela preferiu o preto, com as mangas e a gola rendadas e transparentes. Segundo Marie Lafayette, foram 20 dias para desenhar as roupas e 14 horas para produzi-las.

Michelle, de 38 anos, demonstrou ser carismática. Nas mídias sociais chegaram a dizer que ela seria uma nova “Evita Perón”, comparando-a com a ex-primeira-dama argentina, que acabou substituindo o marido Juan Domingo Perón, o maior ídolo da política da Argentina em toda a história. Michelle, no entanto, faz questão de não romper com suas raízes. Ela cresceu em Ceilândia. Sua família ainda vive na cidade. Como ISTOÉ mostrou na sua edição de 28 de novembro, eles pretendem lá continuar mesmo agora quando Michelle passará a morar no suntuoso Palácio da Alvorada.

Terceira mulher de Bolsonaro, Michelle conheceu o presidente quando se tornou sua secretária na Câmara dos Deputados. Com ela, Bolsonaro tem uma filha, Laura, de oito anos. Seus pais são separados. Mas tanto a mãe, Maria das Graças, quanto o pai, o ex-motorista de ônibus Vicente de Paulo, a quem Bolsonaro chama de “Paulo Negão”, moram em casas humildes da cidade. Outros parentes da primeira-dama também residem no lugar com o qual ela jamais quer perder o vínculo. Paulatinamente, sem alarde, mas com muita luz própria, surge uma embaixadora dos mais necessitados.

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Ela pede passagem

Michelle Bolsonaro surpreendeu a todos fazendo discurso em linguagem de libras, precedendo o pronunciamento do marido no parlatório do Palácio do Planalto. Eis alguns trechos:

“Gostaria de modo muito especial de dirigir-me à comunidade surda, às pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos: vocês serão valorizados e terão seus direitos”

“A partir de agora, como primeira-dama, posso ampliar esse contato de maneira mais significativa”

“Agradeço a Deus pela grande oportunidade de ajudar as pessoas que mais precisam”

“Quero fazer um trabalho de ajuda ao próximo, o que sempre fez parte da minha vida”

“É grande a satisfação e o privilégio de poder contribuir e trabalhar para toda a sociedade brasileira”

 


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