O militar é o mais pacifista dos cidadãos. Ele conhece a barbárie da guerra e contra ela luta para não lutá-la.

Eis a razão, paradoxalmente, para que militares assumam como propósito de vida manter a paz e a estabilidade nas suas áreas de responsabilidade, em benefício daqueles a quem devem servidão democrática: a população de seu país.

Um desafio ambicioso que exige lastro profissional e inteligência emocional de cada soldado, atenção permanente à ambiência informacional e entendimento elaborado da conjuntura interna e externa.

Vencer essa empreitada depende de três condicionantes.

A primeira é manter-se forte o suficiente para dissuadir aventuras de qualquer natureza.

A segunda é antecipar-se em soluções para evitar os potenciais riscos que possam afetar a soberania futura do Estado.

A terceira é isentar-se dos embates políticos, próprios da democracia, que não se coadunam com a profissão das armas.

A capacidade de dissuasão do Brasil está alicerçada pelos acordos da diplomacia militar, pela dimensão territorial e populacional, e pelo potencial de mobilização dos poderes nacionais.

Para o bem ou para o mal, a histórica inexistência de conflitos – recordemos que o último emprego organizado de forças militares em um teatro de operações convencional foi na Segunda Guerra Mundial – afasta a percepção das ameaças.

A normalidade continuada faz-nos esquecer que a paz é uma condição arduamente trabalhada e não um direito divino inconteste.

A dissuasão será tanto maior quanto maior for o entendimento coletivo sobre o flagelo da guerra e, em consequência, o valor da paz.

Antever soluções contra potenciais riscos é mais complexo. Exige disciplina no trato da história e resiliência para converter os descrentes.

É necessário coragem e comprometimento das lideranças políticas, sociais e militares com os valores maiores da nação, fugindo do conforto da leniência, ao tempo em que projetam soluções, desconsiderando reconhecimentos ou apupos.

A isenção nas disputas pelo poder, no quadro das oscilações naturais de uma democracia, é sinal de maturidade de Forças Armadas profissionais.

Instituições militares são permanentes na linha do tempo. Ultrapassam governos. Quanto mais temperadas na forja das experiências pretéritas, mais inabaladas elas estarão diante dos futuros desafios.

O comportamento da organização não pode se atrelar a modismos extemporâneos ou excitações juvenis. O primeiro passo para garantir a condição indeclinável de instituição de Estado é ter uma clara consciência sobre isso.

As Forças Armadas brasileiras vêm oferecendo seguidas entregas. Por isso, é fato, a marca dos militares é valiosa. Cresceu nos últimos tempos, tornou-se ainda mais atrativa e cortejada.

Mas, diante do cenário de agora, o momento é de circunspecção construtiva. Para alcançar esse intento, as Forças Armadas devem se fortalecer pela coesão.

Traçar as cláusulas pétreas para sobrevivência dos valores e tradições, comunicando-as adequadamente, gerará energia impulsionadora no cumprimento das missões e o mais genuíno respeito da opinião pública.

Amainará, também, quaisquer dúvidas quanto à postura institucional das Forças Armadas.

Soldados jovens e maduros, mulheres e homens, da ativa e da reserva, indistintamente, são responsáveis pelo trançar da rede protetora de nosso país.

Da parte dos militares, conscientes de seus direitos e deveres, não há dúvidas quanto a essa tarefa.

A sociedade precisa compreender que divididos seremos mais fracos. E questionar, a quem interessa a desordem?

É hora de o país corrigir os equívocos, cobrar dos devedores, ajustar os alforjes para a viagem e, então, romper o passo em marcha organizada rumo ao objetivo permanente de equilíbrio institucional, de respeito ao legal e de defesa do social.