Às vezes é difícil acreditar que problemas de saúde pública da maior gravidade sejam no Brasil tratados de forma tão grotesca. Na terça-feira 14, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, atribuiu parte da epidemia de obesidade registrada no País ao fato de as crianças “não terem a oportunidade de descascar alimentos” porque suas mães não estão mais em casa. Vamos à frase: “É preciso qualificar essas crianças para manipular os alimentos. Muitas delas não ficam em casa com as mães e não têm oportunidade de aprender a descascar os alimentos.”

Ajuda Ministro da saúde, Ricardo Barros, pretende informatizar o SUS
“É preciso qualificar essas crianças para manipular os alimentos. Muitas delas não ficam em casa com as mães e não têm oportunidade de aprender a descascar os alimentos” -Ricardo Barros, ministro da Saúde

A frase foi dita uma semana depois de o presidente Michel Temer ter sugerido que o principal papel feminino é o de cuidar da casa. Embute, novamente, a ideia de que a educação dos filhos cabe somente à mulher. Além da cor machista, sobram outros equívocos na fala do ministro. A obesidade é uma doença complexa. Envolve fatores genéticos, comportamentais e sociais. Quem quiser combater a sério essa enfermidade – fator de risco para infarto, acidente vascular cerebral e câncer – precisa se voltar ao ataque de cada um desses itens usando como base evidências científicas sólidas, disponíveis a qualquer interessado.