É difícil apontar o problema mais sério que o Brasil enfrenta hoje. Temos um ministro da Educação que despreza professores, um ministro do Meio Ambiente que é contra a natureza e um ministro da Economia que está mais preocupado com o próprio ego do que com as pessoas. Para completar, temos um presidente que odeia 70% dos brasileiros. Em meio à pandemia, somos vítimas de outro vírus: a mania de “achismo” que tomou conta do País.
No Brasil do século 21, ninguém quer saber de nada. Saber, afinal, dá trabalho. É preciso passar tempo lendo, estudando, se aprofundando. Achar é bem mais fácil. Não importa o assunto, temos uma horda de especialistas que acha coisas a respeito de temas sobre os quais não têm a menor ideia. A eles, infelizmente, não basta achar: querem que todos ouçam o que eles acham.

Para achar, não é preciso levar em conta informações existentes ou fatos reais. Basta achar. Se alguém apresenta uma verdade incontestável, há sempre a possibilidade de dizer “e daí?” e sair andando. Se no passado éramos 200 milhões de técnicos de futebol, hoje evoluímos: somos 200 milhões de infectologistas, 200 milhões de juristas e 200 milhões de cientistas. Tudo ao mesmo tempo. Com uma quantidade tão grande de gente preparada, fica difícil entender por que nossos indicadores na educação continuam péssimos. Os rankings internacionais deveriam incluir apenas questões opinativas. Acho que seríamos muito bem avaliados. Acho, mas não sei.

“Por que um cientista sabe mais que o meu vizinho do grupo de Whatsapp?” Resumindo, porque o cientista passou a vida em um laboratório e o seu vizinho viu um vídeo de três minutos no Youtube. Mas é difícil explicar essa lógica a alguém que acha coisas. Quem sabe baseia o conhecimento em informações reais, enquanto quem acha baseia o conhecimento em… bem, em nada. “A internet deu voz aos idiotas”, afirmou Umberto Eco. E como são muitos, urram até serem ouvidos. São gritos totalmente desconexos, mas o volume é alto para burro.

O problema com a realidade é que os fatos não dependem das opiniões. É possível divergir sobre a interpretação deles e até sobre suas consequências. Mas o bom senso impede que se duvide dos fatos em si. “A Terra é redonda”, você diz. “Não é!”, discordam. E acaba aí. Temos que mudar essa maneira de pensar. Enquanto isso, seguimos lutando para ouvir quem sabe em meio ao barulho de quem acha. Algum dia a gente aprende. Até lá, vamos achando que somos um País.

No Brasil de hoje, ninguém quer saber de nada. Saber, afinal, dá trabalho. É preciso ler, estudar, se aprofundar. Achar é bem mais fácil