O “obituário” do primeiro-ministro Boris Johnson já estava pronto há um bom tempo. Mal anunciou sua renúncia nesta quinta-feira, 7 de julho, e a mídia do Reino Unido já listava extensas biografias de candidatos sorridentes, enfileirados e prontos para ocupar o cargo: Ben Wallace, Rishi Sunak, Penny Mordaunt, Sajid Javid, Liz Truss, Jeremy Hunt, Nadhim Zahawi, Suella Braverman, Tom Tugendhat, Steve Baker, Priti Patel – e por aí vai. As casas londrinas de apostas já estão alvoroçadas… Aos interessados, Ben, Rishi e Penny são os mais cotados: 6 para 10.

Boris saiu atirando, com, um humor meio inglês-meio sardônico. Falou que “nosso sistema brilhante e darwiniano produzirá outro líder”. Na saída, disse ainda que fica no cargo até a chegada de quem for ungido. A maioria do Partido Conservador chiou. Quer que Boris e seus escândalos desocupem o trono “já”.

Se a festinha, ou festona, promovida nos jardins de casa durante a pandemia teve um desmentido que caiu no vácuo depois da imprensa mostrar o próprio chanceler e convidados devidamente tilintando taças em brindes – enquanto a ordem para a plebe era ficar trancada em casa –, o amontoado de impropriedades não parou por aí. As passadas de mão de Chris Pincher, do governo de Boris, em dois outros senhores em noite de bebedeira em um clube, certamente contribuíram. A renúncia desse, no dia 1º, foi seguida do adeus de dois dos principais ministros do Reino Unido, um seguido do outro: Rishi Sunak, das Finanças, e Sajid Javid, da Saúde, Sajid Javid. No vácuo, mais de 50 membros governamentais apresentaram suas cartas de demissão.

Boris já tinha pedido desculpas à rainha pelo desprezo mostrado ao funeral do marido dela (Philip morreu e Elizabeth segue na história, rumo aos 100 anos, firme aos 96). Ainda primeiro-ministro, andou dizendo que se o presidente russo Vladimir Putin fosse mulher não teria iniciado a guerra, o que poderia até chegar perto da verdade, mas na hora lembraram a ele de sua antecessora Margaret Thatcher no episódio das “Malvinas argentinas”, ou, para ela, Falklands. Boris já tinha levado pito dos franceses no início da pandemia, pela “meia dúzia” de asilos concedidos a refugiados ucranianos, depois chegou a declarar que a Ucrânia teria de acabar cedendo parte de seu território antes do fim da guerra (uma fala meio que enterrada por duas “calorosas” visitas a Kiev). Resta lembrar ainda das intenções subentendidas sobre um “desBrexit”.

Com um mandato tão descabelado quanto sua própria figura, Boris Johnson sai do comando, porque ultimamente só estava mesmo “fazendo peso na laje” e, pelo jeito, os britânicos cansaram de relevar suas fanfarronices.