O presidente Jair Bolsonaro dá provas sucessivas de ser um sujeito que pouco se lixa para o sofrimento e a morte dos seus semelhantes. Além das barbaridades que vem dizendo sobre a Covid-19, seus frequentes elogios à prática da tortura e ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra são insultantes e patológicos. Dessa vez, o alvo de sua verve macabra foi a ex-presidente Dilma Rousseff. Na segunda-feira 28, antes de se retirar de férias em uma praia paradisíaca no Guarujá, Bolsonaro ironizou as torturas sofridas por Dilma durante a ditadura militar em resposta a um de seus apoiadores na frente do Palácio do Planalto. “Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio-X”, disse o presidente.

A fala de Bolsonaro mostra mais uma vez sua falta de controle verbal e crueldade. Ele que deveria mostrar um raio-X para provar que tem cérebro. Vítimas de tortura reagiram imediatamente ao ataque. Um grupo de 23 presas políticas da ditadura pediu providências “contra os insultos, ofensas graves e ignominiosas dirigidas à Dilma”, em carta enviada hoje ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que Bolsonaro não respeita a dignidade humana. “Ele não tem dimensão humana. Tortura é debochar da dor do outro. Falo isso porque sou filho de um ex-exilado e torturado pela ditadura”, disse Maia. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou pelas mídias sociais que “brincar com a tortura de Dilma ou de qualquer pessoa é inaceitável”.

Em tudo que diz, o presidente manifesta rancor e tenta tripudiar com os desafetos. Sempre tem uma declaração fascista na ponta da língua para reagir a qualquer declaração que o incomode. Em uma postagem pelas mídias sociais, Dilma reagiu às palavras do presidente. “A cada manifestação pública como esta, Bolsonaro se revela exatamente como é: um indivíduo que não sente qualquer empatia por seres humanos, a não ser aqueles que utiliza para seus propósitos”, afirmou. E prosseguiu: “Bolsonaro não respeita a vida, é defensor da tortura e dos torturadores, é insensível diante da morte e da doença, como tem demonstrado em face das quase 200 mil mortes causadas pela Covid-19, que, aliás, se recusa a combater. A visão de mundo fascista está evidente na celebração da violência e na defesa da ditadura militar”.

Não é a primeira vez que Bolsonaro demonstra publicamente seu ódio por Dilma. Em 2015, questionado em uma entrevista sobre a possibilidade de permanência de Dilma no Planalto, no dia da votação do impeachment, ele chegou a desejar sua morte. “Espero que o mandato dela acabe hoje, enfartada ou com câncer, ou de qualquer maneira”, afirmou.