Durante uma conversa de aproximadamente uma hora na agradável varanda do Palácio do Jaburu, dois dias antes de assumir a Presidência da República, Michel Temer disse que tinha como um dos principais desafios a reinstitucionalização do País. Nesse contexto, afirmou que a operação Lava Jato era um tema a ser tratado exclusivamente pelo Judiciário. Na semana passada, ao exonerar Romero Jucá do Ministério do Planejamento com 12 dias de governo, o presidente colocou em prática o que teorizou na varanda do Jaburu. Ao deixar claro que o Executivo não será usado como biombo protetor, o presidente adota uma postura bem diferente da que vinha sendo protagonizada pela gestão anterior e aponta um novo caminho para o País. O gesto de Temer indica que a Lava Jato vai continuar, mas que não será mais motivo para paralisar o governo.

Por omissão e intromissão entre os poderes, desde o final de 2014 a agenda política do Brasil vinha sendo formulada muito mais em Curitiba (PR) do que em Brasília. Ao tentar proteger petistas e aliados a cada nova descoberta da Lava Jato, o Executivo, comandado por Dilma Rousseff, permaneceu inerte nos últimos dois anos. O Legislativo, por sua vez, ao alimentar o embate político entre situação e oposição a partir das canetadas do juiz Sérgio Moro e do procurador Rodrigo Janot, também parou. Na última semana, quando a operação Lava Jato passou a ser tratada como uma questão exclusiva do Judiciário, a agenda política voltou para Brasília, mais precisamente para o Palácio do Planalto e para o Congresso. Mesmo com um feriado no meio do caminho e com novas denúncias contra o ex-ministro do Planejamento e contra Renan Calheiros, o presidente Michel Temer e a base aliada na Câmara e no Senado aprovaram a nova meta fiscal. Além disso, deputados e senadores receberam e já debatem as primeiras medidas econômicas planejadas pela equipe de Henrique Meirelles.

Independentemente dos resultados que essas medidas possam trazer e sem entrar no debate ideológico sobre elas, é inquestionável que a postura do presidente traduz outro caminho. A operação Lava Jato não pode e não deve parar. Seus desdobramentos e seus rumos, no entanto, devem ser determinados pelo Ministério Público e pelo Judiciário. Ao Executivo e ao Legislativo está reservado o papel de fazer o Brasil reencontrar o crescimento e os empregos, ainda que durante o percurso tenha que abater de suas fileiras aqueles que não tenham as referências éticas necessárias para lidar com os recursos públicos. A reinstitucionalização do País é, de fato, a fórmula que permitirá assegurar a continuidade do combate à corrupção sem que o País fique de joelhos diante das revelações, ainda que sejam comprovadas as participações de líderes políticos nos propinodutos que se multiplicaram nos últimos 13 anos.