O uso abusivo dos cartões corporativos mostra de forma didática como o presidente lida com o dinheiro público. Em apenas três anos, segundo levantamento do jornal “O Globo”, Bolsonaro gastou R$ 29,6 milhões, quase 20% a mais do que foi utilizado em quatro anos da gestão Dilma-Temer. Em 2021, as despesas (R$ 11,8 milhões) bateram o recorde nos últimos sete anos.

O presidente adora passar uma imagem de moralizador enquanto, na surdina, faz a festa com o dinheiro público. Passou quase 30 anos no Congresso reclamando dos políticos e dizendo que precisava dar um golpe para consertar o País. Hoje, há inúmeros relatos de que o usou esse tempo no baixo clero da Câmara para criar uma rede milionária de rachadinhas, desviando recursos para sua família. O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro mostrou claramente como funcionava na Alerj o esquema de seu filho, Flávio Bolsonaro, mas o mandatário usou a mão pesada do governo para travar as investigações. Até um velho informante de Bolsonaro, um amigo de décadas de apelido Jacaré, falou sobre o esquema.

Ao assumir a Presidência, Bolsonaro trabalhou para dobrar os órgãos de controle, aparelhando até a Polícia Federal, e impediu a divulgação de dados e a transparência sobre a administração. Os cartões são protegidos por sigilo, em tese, para proteger a privacidade e a segurança do chefe de Estado. “Tenho três (cartões), dois são para viagens, abastecimento de aeronaves, comprar comida para 50 emas”, disse em tom de deboche. As aves dos palácios oficiais certamente não custam tantos milhões e nem são assunto de segurança nacional. E muitas não gostam do hóspede do Alvorada. Consta que ele já foi bicado mais de uma vez. Ao apresentar uma caixa de cloroquina para uma delas, ela fugiu.

Se não foi para as aves, o presidente deveria mostrar para que gastou os 30 milhões. O uso suspeito de verbas milionárias mostra apenas que ele se comporta como um ditador de república de bananas, que se lixa para a opinião pública e usa o governo como se fosse sua casa. No mês de dezembro, em que ele exibiu nas redes sociais sua farra em praias de Santa Catarina e São Paulo, o gasto com cartões chegou a R$ 1,5 milhão, batendo mais um recorde na sua gestão. Não é à toa que o sigilo das faturas precisa ser protegido a ferro e fogo.

“As acusações são as mais absurdas possíveis porque estamos incomodando”, afirmou Bolsonaro sobre o uso dos cartões. É mais uma bazófia. Basta divulgar os gastos para mostrar que é cuidadoso com o dinheiro do cidadão. Não divulga porque os efeitos seriam devastadores para sua imagem. Ao esconder as contas e multiplicar a fatura, ele apenas amplia as suspeitas. Por que a população deveria confiar nele?