31/01/2020 - 9:30
Em recente encontro com empresários e banqueiros no Fórum Econômico Mundial, em Davos, o magnata George Soros expressou o que os investidores e fundos soberanos cada vez mais falam abertamente. “Bolsonaro não conseguiu impedir a destruição das florestas tropicais no Brasil, com o objetivo de abri-las para a pecuária”. O investidor, que possui patrimônio de US$ 8 bilhões e fundou a Quantum Group Funds, administradora U$ 25 bilhões em ativos, expressou o repúdio generalizado entre os players globais com a forma como o País lidou com as intensas queimadas na Amazônia em 2019. E isso terá consequências para a economia brasileira. Independentemente das causas do fogo e do desmatamento, é clara a preocupação de grandes investidores e fundos de investimentos com a palavra-chave no mundo das finanças atual: governança ambiental. A sustentabilidade não é mais apenas uma questão de boa publicidade — tem impacto direto no risco financeiro de um país.
Poucos dias antes da manifestação de Soros, o presidente da BlackRock, Larry Fink, divulgou uma carta a CEOs do mundo em que o tom é exatamente esse. Nela, Fink reflete como a consciência ambiental está mudando rapidamente, e afirma com todas as letras: “risco climático é risco de investimento”. A BlackRock é a maior gestora de ativos do mundo, com mais de US$ 6,5 trilhões em sua carteira. A companhia afirma que influenciou 4,8 mil diretores em decisões empresarias em todo o mundo em 2019 no sentido de terem maior comprometimento com a transparência em práticas de sustentabilidade.
Estes dois grandes alertas chegam num momento importante para a economia brasileira, que conseguiu atrair uma quantia relevante em investimento direto estrangeiro em 2019. O Investment Trends Monitor, divulgado pela agência da ONU responsável por comércio e desenvolvimento, mostra que o Brasil recebeu US$ 75 bilhões no setor produtivo em 2019, quantia 25% superior a 2018 — ocupou a quarta colocação nesse ranking, atrás apenas dos EUA, da China e de Cingapura. É inegável o potencial nacional para receber recursos, mas isso pode ser comprometido pela má imagem em quesitos de sustentabilidade e preservação das riquezas naturais.
Luzes de alerta
Importantes presidentes de instituições financeiras, como Ilan Goldfajn, do Credit Suisse, e Candido Bracher, do Itaú, já expressaram preocupação quanto à imagem da preservação ambiental do Brasil. Confirmando que esse é um problema real, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já afirmou que o assunto é discutido internamente no governo. “O investimento externo vai olhar esses critérios ambientais. Precisamos estar em conformidade”, afirmou.
A resposta oficial veio na semana passada. O presidente Jair Bolsonaro determinou a criação do Conselho Amazônia, que será coordenado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. No Twitter, Bolsonaro afirmou que a função do órgão será “coordenar as ações em cada ministério voltadas para a proteção, defesa e desenvolvimento sustentável da Amazônia” — tudo que um investidor com preocupação ambiental gostaria de ouvir. Mas restam dúvidas sobre as reais intenções com o novo órgão, já que Bolsonaro em 2019 desmontou na prática o arcabouço científico e fiscalizatório para a proteção da floresta. O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, mantém o discurso inflamado contra os ambientalistas. O governo vai precisar mudar sua conduta se não quiser prejudicar os negócios. Quem tem a chave do cofre vai acompanhar atentamente a nova temporada de seca na Amazônia, que começa em março, e o Brasil não pode comprometer os investimentos, fundamentais para garantir a retomada econômica. Se o pragmatismo superar a ideologia, o País só tem a ganhar.