Em recente encontro com empresários e banqueiros no Fórum Econômico Mundial, em Davos, o magnata George Soros expressou o que os investidores e fundos soberanos cada vez mais falam abertamente. “Bolsonaro não conseguiu impedir a destruição das florestas tropicais no Brasil, com o objetivo de abri-las para a pecuária”. O investidor, que possui patrimônio de US$ 8 bilhões e fundou a Quantum Group Funds, administradora U$ 25 bilhões em ativos, expressou o repúdio generalizado entre os players globais com a forma como o País lidou com as intensas queimadas na Amazônia em 2019. E isso terá consequências para a economia brasileira. Independentemente das causas do fogo e do desmatamento, é clara a preocupação de grandes investidores e fundos de investimentos com a palavra-chave no mundo das finanças atual: governança ambiental. A sustentabilidade não é mais apenas uma questão de boa publicidade — tem impacto direto no risco financeiro de um país.

Poucos dias antes da manifestação de Soros, o presidente da BlackRock, Larry Fink, divulgou uma carta a CEOs do mundo em que o tom é exatamente esse. Nela, Fink reflete como a consciência ambiental está mudando rapidamente, e afirma com todas as letras: “risco climático é risco de investimento”. A BlackRock é a maior gestora de ativos do mundo, com mais de US$ 6,5 trilhões em sua carteira. A companhia afirma que influenciou 4,8 mil diretores em decisões empresarias em todo o mundo em 2019 no sentido de terem maior comprometimento com a transparência em práticas de sustentabilidade.

Estes dois grandes alertas chegam num momento importante para a economia brasileira, que conseguiu atrair uma quantia relevante em investimento direto estrangeiro em 2019. O Investment Trends Monitor, divulgado pela agência da ONU responsável por comércio e desenvolvimento, mostra que o Brasil recebeu US$ 75 bilhões no setor produtivo em 2019, quantia 25% superior a 2018 — ocupou a quarta colocação nesse ranking, atrás apenas dos EUA, da China e de Cingapura. É inegável o potencial nacional para receber recursos, mas isso pode ser comprometido pela má imagem em quesitos de sustentabilidade e preservação das riquezas naturais.

Luzes de alerta

Importantes presidentes de instituições financeiras, como Ilan Goldfajn, do Credit Suisse, e Candido Bracher, do Itaú, já expressaram preocupação quanto à imagem da preservação ambiental do Brasil. Confirmando que esse é um problema real, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já afirmou que o assunto é discutido internamente no governo. “O investimento externo vai olhar esses critérios ambientais. Precisamos estar em conformidade”, afirmou.

“O investimento externo vai olhar esses critérios ambientais. Existe uma visibilidade maior tanto do nosso governo quanto em vários outros desse impacto nos fluxos financeiros” Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (Crédito:José Cruz/Agência Brasil)

A resposta oficial veio na semana passada. O presidente Jair Bolsonaro determinou a criação do Conselho Amazônia, que será coordenado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. No Twitter, Bolsonaro afirmou que a função do órgão será “coordenar as ações em cada ministério voltadas para a proteção, defesa e desenvolvimento sustentável da Amazônia” ­— tudo que um investidor com preocupação ambiental gostaria de ouvir. Mas restam dúvidas sobre as reais intenções com o novo órgão, já que Bolsonaro em 2019 desmontou na prática o arcabouço científico e fiscalizatório para a proteção da floresta. O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, mantém o discurso inflamado contra os ambientalistas. O governo vai precisar mudar sua conduta se não quiser prejudicar os negócios. Quem tem a chave do cofre vai acompanhar atentamente a nova temporada de seca na Amazônia, que começa em março, e o Brasil não pode comprometer os investimentos, fundamentais para garantir a retomada econômica. Se o pragmatismo superar a ideologia, o País só tem a ganhar.