Com o término da Olimpíada, a vida do brasileiro volta ao normal. E nunca é agradável sair da bolha das ilusões e encarar a dura realidade. Após o entorpecimento vem sempre a ressaca. Mas, dessa vez, muitos alegam que ficou um legado intangível, que compensaria até mesmo os bilhões todos torrados no megaevento: o resgate da nossa “autoestima”.

Considero o termo sobrevalorizado, fruto da era moderna. O filósofo Pondé chama isso de “marketing do comportamento”, lembrando que as verdadeiras virtudes são silenciosas, não tagarelas. Ou seja, quem tem autoestima mesmo não precisa ficar reafirmando o tempo todo que é o máximo, só porque sabe dar uma festa animada e sem maiores incidentes. Isso parece coisa justamente de gente insegura.

O complexo de vira-latas não é só o derrotismo crônico de quem acha que nada nosso presta. É, também, o ufanismo boboca dos que abanam o rabo para qualquer elogio de fora, ainda que falso, enquanto mostram os dentes raivosos para toda crítica, ainda que verdadeira.

“Quem tem autoestima não precisa ficar reafirmando que é o
máximo, só porque sabe dar uma festa sem maiores incidentes”

Achar que só com “autoestima” vamos longe é uma doce ilusão. Coisa de pais que acreditam que basta repetir como o filho é especial para que ele efetivamente seja diferenciado. Na vida real não funciona assim. Depois, quando vem o fracasso, resta cuspir no sucesso alheio e enaltecer a própria mediocridade, repetindo que todos são especiais – o mesmo que dizer que ninguém o é.

O vencedor não se faz no pódio; ali, ele é apenas reconhecido, após muito esforço e dedicação. Há um elevado custo a ser pago pelo ouro, pela excelência. Quem quer realmente se destacar precisa trabalhar muito para isso, ter uma vida de privações, abrir mão de certas regalias. O indivíduo está disposto ao sacrifício? E a sociedade?

Quando começarmos a praticar tais virtudes poderemos ter esperança. Até lá, de nada adiantará ter “autoestima”, se ela for desprovida de fundamento. Não basta acreditar que é um vencedor para sê-lo; é preciso enfrentar o árduo processo de transformação que precede a vitória, a conquista do ouro.

No caso do progresso da nação, estamos falando de como chegar ao primeiro mundo. E isso exige uma ética do trabalho, da meritocracia, responsabilidade individual, empreendedorismo, liberdade econômica, valores morais sólidos. Ou seja, precisamos de uma mudança cultural. Isso aconteceu só por conta da Olimpíada, por acaso?

O brasileiro tem que parar de vitimização e de esperar soluções mágicas do governo, visto como um “messias salvador”. A atitude deve mudar. Não precisamos de “autoestima”, mas de uma mentalidade diferente. É esse o preço do ouro. A alternativa é se contentar com o 13o lugar, repetindo que tanto faz ouro, bronze ou mesmo latão. E ser o eterno país do futuro…