O poder do presidente Bolsonaro de imobilizar seus parceiros é de se admirar. As apostas que as delações sairiam assim que a CPI da Covid avançasse no Senado não se confirmaram. Em seus depoimentos o que menos se vê são os serviçais entregando o chefe. Lealdade não falta. Pode faltar tempo e um pouco de coragem para confessar aquilo que se sabe e também aquilo que se fez parte. O ex-capitão se equilibra para atender a todos. Um cargo de segundo escalão aqui. Um afago ali. Uma promessa de futuro que pode nunca chegar. O limite está na sede do Centrão. Eles vão ficar com tanto espaço que é provável que não exista onde alojar os companheiros de longa data.

O ex-policial Fabrício Queiroz, amarga um bom tempo de bico calado. Ele é apontado como o braço direito do clã no gerenciamento das rachadinhas de Flávio Bolsonaro. Queiroz foi protegido pelo advogado da família, Frederick Wassef, que o escondeu em uma de suas casas em Atibaia, no interior de São Paulo. Depois de preso e de algumas mensagens de sua esposa Márcia vazarem, o temor é grande e o objetivo é para manter Queiroz o mais silencioso possível. Algo que foi alcançado com sucesso, pelo menos provisoriamente.

Em mensagens enigmáticas, por meio das redes sociais, Queiroz mandou recentemente um recado para o presidente. Ele quer participar do governo. Pesa a queda de rendimentos do amigo do presidente, que teve a vida devassada com a ascensão de Bolsonaro ao poder. Ainda que o ex-policial receba bons vencimentos da aposentadoria na Polícia Militar do Rio de Janeiro, é provável que os valores sejam inferiores aos que estava acostumado a receber quando estava a serviço do clã. Nas ameaças veladas, Queiroz diz ter uma “metralhadora cheia de balas” e se incomoda com o fato de ter sido abandonado. São comuns as fotos que o amigo aparece com o presidente. Em liberdade há cerca de quatro meses, Queiroz talvez conte como um cargo no Planalto: isso seria conveniente para manter a lealdade?