06/01/2023 - 9:30
Há esperança.
Há esperança porque a esperança andou morrendo, mas agora voltará a ser a última que morre.
O bordão é tão velho como são velhos os anos que passam. E são velhos porque há sempre um ano novo. Dessa vez, porém, é diferente: há esperança de que 2023 seja verdadeiramente um novo ano fora dos jargões. Sente-se no ar um tempo de esperança.
No ar e no tempo há uma espécie de torcida brasileira pelo gol da esperança. Torcida dos brasileiros de boa vontade. Cá no chão Lula e lá no céu Pelé, os dois estão marcando conosco o gol de placa da esperança.
Há esperança de emprego porque, feito cantou Gonzaguinha, o homem é seu trabalho. E sem o seu trabalho o homem não é nada, não é nada. Sente-se desonrado — e deserdado da esperança.
Há esperança de duas, quiça três refeições por dia. Há a esperança de que estômagos parem de doer de fome. E há a esperança de que a arquitetura hostil seja agora legalmente punida.
Há esperança de que os loucos não sejam obrigados a se fingirem normais.
Há esperança para os doentes e para os sãos; e a saúde, prouvera a Deus, será de todos.
Há esperança de UTIs vazias.
Há esperança, tem de haver a esperança, de que os pais voltem a vacinar seus filhos e de que a paralisia, ela sim, fique entrevada.
Há esperança nesse País para empregadores e empregados.
Há esperança para as árvores das florestas porque, queira Pã, os afiados dentes das motosserras ficarão cegos.
Há esperança porque as pessoas se matarão menos.
Há esperança porque a esperança andou morrendo, mas agora voltará a ser a última que morre
Há esperança para as mulheres e as meninas, para os homens e os meninos, para todas as opções e escolhas de gênero na perspectiva dos direitos humanos.
Há esperança de pacificação, Oxalá ajude, entre todas as religiões, crenças e credos.
Há esperança porque haverá empatia.
Há esperança porque haverá gratidão.
Há esperança porque haverá compaixão.
Há esperança porque haverá bonomia.
Há esperança porque, na luta de classes, ao pobre Lula dará a segurança da esperança. E ao rico também, porque a democracia social se esparramará feito bênção.
Há esperança de que o Centrão perca o ão.
Há esperança de que a Cultura e todas as Artes não parem de florescer – livres de censura. Atena quererá.
Há esperança, Nhamandú é Pai, de que os indígenas, as indígenas e as mais diversas etnias sejam tratadas como gente. Há esperança de isonomia e democracia racial.
Há esperança porque, como escreveu Carlos Drummond de Andrade, “é dentro de você que o ano novo cochila e espera desde sempre”.