Universidade de Nova York revelou recentemente um procedimento realizado por uma de suas equipes médicas que pode abrir as portas para o desenvolvimento de transplantes de órgãos de animais para o organismo humano em pessoas vivas. Isso, claro, no futuro. Esse primeiro teste, até por se tratar ainda de um teste, foi obviamente realizado em uma paciente já com morte encefálica constatada. Ou seja: ela estava morta e seu metabolismo ficou apenas mecanicamente ativado — isso é possível graças ao desenvolvimento tecnológico da ciência, embora o estado de óbito, a partir da paralisação das ondas cerebrais, seja irreversível. Qual a vantagem, então, da experiência? Resposta: com o que se observou, pode-se começar a pensar, agora, em salvadores.

Por enquanto os especialistas acoplaram um rim de porco, após o órgão ser geneticamente modificado, ao corpo da mulher. Leia-se: ele ficou extracorpóreo. Como a atividade fisiológica permanecia artificialmente mantida, esse rim suíno começou a filtrar o sangue e a produzir urina. O teste durou ao longo de cinquenta e quatro horas, quando, então, os aparelhos foram desligados e o corpo liberado para estudos científicos. Os médicos optaram por manter o rim do porco do lado de fora do corpo para poder monitorá-lo plenamente.

Essa técnica, conhecida como xenotransplante, traduz o encaixe perfeito entre a engenharia genética e o procedimento cirúrgico. “É um alento. Prova que o procedimento é seguro”, diz Mayana Zatz, geneticista e professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP. Em um futuro próximo, segundo Mayana, além dos rins, também outros órgãos de porco (a exemplo de coração e córneas) poderão servir aos seres humanos. E, aí, mantê-los com vida.