PERSONAGEM Andy Warhol: críticas de colegas contemporâneos por suas posições irônicas (Crédito:Brownie Harris)

Em 1978, ao ser indagado sobre as celebridades que frequentavam a boate Studio 54, em Nova York, Andy Warhol fez sua mais famosa declaração: “no futuro todos serão famosos por 15 minutos”. Em uma única frase, o visionário da arte pop antecipava em quase meio século o comportamento efêmero do mundo digital, os personagens que viralizam nas redes sociais e o vazio das celebridades instantâneas criadas pelos reality shows.

Nesse universo cada vez mais rápido e conectado, é irônico saber que ele precisou de ainda menos tempo para entrar para a história: em apenas quatro minutos, Shot Sage Blue Marilyn, seu famoso retrato da atriz Marilyn Monroe, foi leiloado por US$ 195 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) pela casa Christie’s, em Nova York. Ao superar o valor de US$ 179,4 milhões pago por As Mulheres de Argel, de Pablo Picasso, o quadro de Warhol comprado pelo investidor armênio Larry Gagosian tornou-se a obra de arte mais cara produzida no século 20.

Suas pequenas medidas (1 x 1 metro) não correspondem a sua dimensão cultural. Ao contrário de Picasso, Modigliani e Monet, outros grandes mestres da arte moderna, o maior talento de Warhol não era técnico, mas conceitual: o uso de serigrafias produzidas em grande escala subverteram a própria concepção do que é uma obra de arte, um objeto único cuja criação exigia talento e emoção, algo semelhante ao que o francês Marcel Duchamp fez no início do século 20. Warhol, ao contrário, acreditava que a arte podia ser elaborada mecanicamente e distribuída como se fosse feita em uma linha de montagem: metáfora perfeita para a sociedade pós-industrial. O que torna a Marilyn que foi leiloada diferente das demais é que ela integra uma série de pinturas atingidas por tiros na The Factory, complexo de estúdio e ateliê do artista. Em 1968, a atriz Valerie Jean Solanas disparou três vezes contra o antigo mentor – uma das balas atingiu Warhol, que quase morreu. Os outros dois projéteis atingiram quadros em produção, mas as pinturas foram restauradas anos depois.

Como todo grande artista, Andy Warhol era parte intrínseca de sua obra. A influência da vida pessoal em sua trajetória fica muito clara na excelente série documental Diários de Andy Warhol, disponível na Netflix. Ali, é possível compreender como o garoto nascido em uma família de imigrantes tchecos, os Warhola, aprendeu a usar a timidez e a inteligência para vencer as adversidades. Tímido, se oferecia para pintar os garotos do bairro que o ameaçavam com bullying, garantindo momentos de tranquilidade. A ideia por trás dos retratos surgiu nessa época, com as imagens de santos da catedral ortodoxa de Pittsburgh, nos EUA, onde cresceu. Mais tarde percebeu que ícones contemporâneos como Marilyn, Elvis Presley e Mick Jagger, entre outros, também eram “santos”, mas da cultura popular. Ele criou para si a imagem de um personagem: suas perucas brancas e óculos coloridos eram manifestações artísticas disfarçadas de acessórios. Ficou tão famoso que inspirou diversos filmes – o próximo terá o astro Jared Leto no papel principal. A postura irônica em relação ao sucesso despertou a ira de artistas contemporâneos como Jasper Johns e Robert Rauschenberg, que o acusavam de fraude. O incrível preço pago por seu quadro mais famoso é a maior prova de que Warhol sabia, como ninguém, o valor de sua arte.

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