No Natal de 1984, o supergrupo de artistas britânicos batizado de Band-Aid e formado por nomes como Paul McCartney, David Bowie, U2, Boy George, Phil Collins, Sting, entre outros, aproveitou o espírito festivo para lançar o videoclipe da canção Do They Know It’s Christmas?, que estourou em todo o mundo. A renda com a venda do disco do projeto organizado pelo roqueiro Bob Geldof seria destinada a combater a fome na Etiópia, país africano que enfrentava uma crise humanitária sem precedentes. A reunião de tantas estrelas chamou a atenção do ator e ativista norte-americano Harry Belafonte, que entrou em contato com Ken Kragen, empresário de Lionel Richie: “Por que os brancos europeus estão ajudando os negros na África e os negros norte-americanos não estão?”, questionou. Nascia ali o que viria a se tornar um encontro histórico dos maiores nomes da música mundial: o projeto USA for Africa e a canção “We Are The World”. Os bastidores desse projeto são tema do documentário A Noite que Mudou o Pop (Netflix), de Bao Nguyen.

Ao ser convocado para recrutar os colegas, Lionel Richie mirou alto. Ligou para Michael Jackson e o produtor Quincy Jones. Ambos haviam lançado juntos Thriller, que se tornaria o álbum mais vendido de todos os tempos.

Richie e Michael seriam os compositores, Quincy, o produtor. A participação do trio atraiu uma constelação de estrelas dos mais diferentes estilos, negros e brancos:
• Bruce Springsteen,
• Stevie Wonder,
• Bob Dylan,
• Diana Ross,
• Cindy Lauper,
• Ray Charles,
• Tina Turner,
• Kenny Rogers,
• Paul Simon – ao todo a lista chegou a 47 grandes nomes.

Foi quando surgiu outra questão: como organizar uma agenda conjunta de tantas celebridades? A saída foi aproveitar o American Music Awards, premiação que reuniria boa parte dessa turma em Los Angeles em 27 de janeiro de 1985.

O pop solidário de Michael Jackson, Dylan, Lionel Richie e cia.
Michael Jackson e Bob Dylan: “Deixe seu ego do lado de fora”, exigiu o produtor Quincy Jones (Crédito:Netflix © 2024)

Despidos da fama

Quincy Jones agendou o estúdio e pediu a todos que mantivessem sigilo. Logo após a premiação, os maiores nomes da música pop chegaram ao local dirigindo seus próprios carros, sem assistentes.

Para garantir a colaboração de todos, afinal, tinham apenas uma madrugada para realizar a gravação, o produtor pendurou um bilhete na porta do estúdio: “Deixe seu ego do lado de fora”.

A gravação da canção e do videoclipe ao mesmo tempo, um pesadelo logístico, começaria com o coro do refrão, trecho em que todos teriam de cantar em uníssono.

Quincy Jones teve de agir como professor, pedindo silêncio e dando broncas. Enquanto isso, Stevie Wonder ensinava Bob Dylan a cantar no “estilo Bob Dylan”.

Essas pérolas são o grande destaque do filme. Ao vê-los ali, esperando a sua vez para cantar, temos a impressão de que estão nus, despidos da fama. Ao término da sessão, às 10 da manhã do dia seguinte, estavam todos exaustos.

A canção arrecadou US$ 160 milhões, mas ver essa enorme quantidade de ícones agindo como pessoas normais não tem preço.

“Michael Jackson não toca nenhum instrumento, então me enviou dezenas de fitas cantarolando melodias.”
Lionel Richie, sobre o processo de composição de “We Are the World”

O pop solidário de Michael Jackson, Dylan, Lionel Richie e cia.
(Netflix © 2024)

Música por um mundo melhor

Live Aid

O pop solidário de Michael Jackson, Dylan, Lionel Richie e cia.
(Divulgação)

Dois shows simultâneos na Inglaterra e nos EUA, em 1985, reuniram Queen, U2 e The Who, entre outros. A renda foi destinada ao combate da fome na Etiópia

Bangladesh

O pop solidário de Michael Jackson, Dylan, Lionel Richie e cia.
(Joe Sia)

Idealizado pelo ex-Beatle George Harrison em 1971, o concerto em Nova York foi o primeiro dos megaconcertos beneficentes. Ravi Shankar e Eric Clapton participaram.

Farm Aid

O pop solidário de Michael Jackson, Dylan, Lionel Richie e cia.
(Divulgação)

Idealizado por Willie Nelson, o festival que reuniu a nata do country norte-americano tornou-se um evento anual com verba doada aos fazendeiros dos EUA