Repercutiu muito mal, mas muito mal mesmo, a imagem de Tite entrando para os vestiários logo após a última cobrança de pênaltis na eliminação do Brasil diante da Croácia. Em seguida, por vários minutos, os jogadores brasileiros permaneceram, na maioria, sentados ou deitados no gramado, em crises de choro. O elenco desabou. Com muito jovens, alguns disputando sua primeira Copa, não havia o mínimo preparo psicológico para absorver de forma menos dolorosa o fracasso. Restou aos atletas um consolar ao outro, e até os adversários croatas tentaram confortar os derrotados. Principalmente Modric, o craque do rival, que carrega longa amizade com Casemiro, Rodrygo e Vinicius Jr., colegas no Real Madrid. E Modric dedicou um longo abraço a Neymar, que chorou copiosamente em sua terceira Copa sem vencer.

Não há como deixar de pensar nas manifestações antidemocráticas que ainda persistem diante de várias unidades das Forças Armadas pelo país. O número de bolsonaristas na frente de cada quartel já diminuiu consideravelmente, mas há os tenazes que mantém a fé cega no Capitão. No fim de semana, Bolsonaro falou diante de seus apoiadores, mas numa aparição rápida e morna. Se sempre faltou lucidez, agora falta entusiasmo. Parece sem fôlego, resignado. E voltou rápido ao isolamento.

As semelhanças entre Tite buscar o vestiário e Bolsonaro permanecer entrincheirado são evidentes. O técnico foi duramente criticado por comentaristas esportivos e por ex-jogadores, que ressaltaram a importância da presença do líder ao lado de seus comandados, num momento em que o moral da tropa escorre pelo ralo. Treinadores de outras seleções eliminadas, como a do Japão e a da Espanha, para ficar em dois exemplos, foram cumprimentar seus jogadores um a um, ainda no campo, no calor do impacto da eliminação.

Bolsonaro é o Tite dos manifestos antidemocráticos. Propõe a ação, pede insistência, e aí dá meia-volta e retorna ao recolhimento que o caracteriza desde a derrota definitiva para Lula no segundo turno. Ex-jogadores acreditam que os meninos do Brasil no Catar se sentiram abandonados. O que dizer dos resistentes que ainda estão marcando presença na porta do quartel, severamente castigados pelo calor infernal dos últimos dias na maior parte do país e perdidos entre fake news e convocações delirantes pelas redes sociais? Tite e Bolsonaro são duas faces do fracasso.