O poder dos gatos

Coluna: José Manuel Diogo

Fundador da Informacion Capital Consulting e Diretor da Câmara de Comércio e Industria Luso Brasileira em Lisboa onde coordena o comité de Trade Finance é o autor do estudo "O Potencial de Expansão das Exportações Brasileiras para Portugal”. Atua atualmente como investidor e consultor, estando envolvido em projetos de intercâmbio internacional nas áreas do comércio, tecnologia e real estate. Vive com um pé em cada lado do Atlântico, entre São Paulo e Lisboa. É autor e colunista na imprensa internacional sobre temas de investimento, importação e exportação e inteligência de mercado. É um entusiasta da cultura e da língua portuguesa.

O poder dos gatos

Divulgação
Foto: Divulgação

Escuto uma música na rádio, é uma senhora de voz doce e um pouco áspera que canta em inglês. Ela fala que acredita em todas as coisas que digo; que o que vai chegar a seguir é sempre melhor do que o que aconteceu antes. Que o futuro é obviamente melhor que qualquer outro tempo, inclusive o passado. Aí eu escuto de novo, encho o peito de ar de suspiro e exalo. Amei!

Ouço repetidamente a faixa e continuo sentindo o pêndulo da sua voz empurrando a agulha do tempo para o lado da sorte.

É melhor você vir— ela canta — venha. É melhor vir até mim. Corra, corra, corra é melhor correr até mim. É sempre uma questão de fé.

A canção em inglês é cantada por uma mulher — se chama Cat Power — poderosa e alternativa, que convoca na força crua da sua voz o poder ancestral dos gatos. Tem umas poucas notas de piano que acompanham uma prece simples que dá vontade de acompanhar. O que vem depois… é sempre melhor.

Esta fé, que tanto é feita de músicas poderosas e cantoras felinas, como da nossa vontade cotidiana de mudar, é a maior alegria que o ser humano pode sentir. É nos momentos mais difíceis, como este que todos atravessamos, que teremos que acreditar que o futuro — sendo a nossa única certeza — é também a melhor.

Neste parágrafo caberiam agora todas as notícias desta semana — as verdadeiras e as falsas — todos os grandes debates da CNN, seus dislates e disparates; muitos essetêefes bombardeados por planaltos queirosianos (olha a letra minúscula!) e toda a bateria de zeros. Os uns e “les autres”.

Neste outro encaixariam luvisticamente (olha a palavra nova!) presidentes por fim infetados, sobretudo pelo medo de ser empichados, cloroquinas guaranis, desmatamentos civis e todos os comportamentos vis a vis semeados pela impotência com que a gente vê o Brasil se enfraquecer diariamente aos olhos do mundo.

E neste aqui dava até para escrever alguns nomes atuais de heróis nacionais, como por exemplo seria, um Mancha Negra de Atibaia ou Homem de Lata em Curitiba! Nem vem que não tem Dorothy, o nosso chapeleiro é muito mais louco!!

Mas o que eu prefiro, é este último paragrafo onde apenas regresso à voz da cantora que ama os gatos e o piano e as suas caudas.

Encostado na parede branca subo a mão à altura da minha cabeça e o chamo pelo seu nome antigo (que acabei de lhe dar) — Senhor Smilee Rajaah!!

E ele se vira, todo pose, para a fotografia que o vai fazer imortal. Me agradece tonteando a cabeça me oferecendo a face a uma carícia impossível.

Tudo cabe numa canção de menos de três minutos. Até o mundo inteiro.