Fora dos estúdios coloridos do Big Brother Brasil e das cercas vigiadas da Fazenda, a vida cotidiana segue inspirando a televisão.

Mais que uma fábrica de fazer dinheiro, os reality shows são um interessante experimento social que reflete a realidade macro. A bola da vez é o Big Brother Brasil.

A casa mais vigiada do País faz jus ao nome, pois nada do que lá se passa passa despercebido pelo público aqui fora.

Foi o que aconteceu com o discurso machista do participante Rodriguinho. O pagodeiro quarentão de abdômen avantajado se pôs a criticar o corpo da empresária e modelo Yasmim Brunet.

Aos 35 anos, a moça esbanja juventude, simpatia e uma silhueta para lá de perfeita, mas apesar da beleza óbvia e irretocável, o músico encontrou defeito onde não existe. Rodriguinho representa, infelizmente, o pensamento de grande parte da sociedade brasileira. É fruto do machismo que presenciou durante a vida e que hoje mimetiza. Outro participante do BBB também passou recentemente pelo tribunal da internet. Numa discussão, o motorista Davi disparou contra o adversário: “Eu sou homem, seu puta! Sou viado, é? (…) meu pai me fez foi homem.”

Após ser chamado a atenção pela direção, o rapaz pediu desculpas e atribuiu a expressão homofóbica a um regionalismo da Bahia. Embora comumente usado no Brasil inteiro, o termo “viado” é mais uma daquelas expressões de cunho depreciativo que precisa ser urgentemente banida do vocabulário.

Ao criticar os fariseus, elite religiosa judaica que pregava ações que não praticava, Jesus afirmou: “A boca fala do que está cheio o coração”.

Ao criticar os fariseus, elite religiosa judaica que pregava ações que não praticava, Jesus afirmou: “A boca fala do que está cheio o coração”.

Se falar é ratificar o que se pensa, é preciso calar não só a palavra maldita, mas curar também o pensamento torpe fonte de todo discurso de ódio.

Ideias equivocadas geram falas irresponsáveis que inspiram comportamentos xenófobos, misóginos, homofóbicos, num ciclo vicioso de preconceito e violência.

Não se muda uma sociedade sem mudar pensamentos, falas e hábitos.

Quando alguém diz que é homem e não é “viado”, o que quer dizer na verdade é que há uma hierarquia moral e social em que o homem está acima do viado. Ele aponta o “viado” como o extremo oposto do homem, sendo o homem portador de todas as virtudes, e o “viado” a personificação de todos os vícios.

São conceitos do patriarcado, uma estrutura social de poder criada para que os homens tomassem para si o domínio da sociedade acima dos demais gêneros. Tem sido assim há muitos séculos, mas não precisa ser assim para sempre. Temos a palavra para começar mais uma revolução.