Em meio às crises que o Brasil enfrenta, a mais relevante hoje é a política e ela tem afetado a economia popular de forma contundente. A instabilidade e as ameaças de ruptura democrática são significativamente perversas. Elas atingem em cheio a cotação do dólar, que influencia com força a inflação e, consequentemente, a renda das pessoas mais carentes, já que trata-se, sobretudo, de um imposto indireto.

Assim, cada vez que Bolsonaro sobe o tom em seus ataques à democracia, as famílias ficam mais empobrecidas. É por isso, também, que não dá para falar em crescimento econômico sem falar em estabilidade democrática.

Mas, se entendermos a ideia de economia pela realidade dos mais ricos, talvez sequer seja possível falar em crise. Em 2015 e em 2016, quando o Brasil registrou quedas significativas no PIB, os milionários foram impactados com a crise, mas foram os menos favorecidos que realmente sofreram de forma mais dolorosa, com 14 milhões de pessoas desempregadas.

Com a pandemia da Covid, no entanto, os endinheirados efetivamente foram menos atingidos pelo baque econômico do que os mais pobres. No ano passado, por exemplo, a renda dos mais ricos não foi tão afetada quanto a da população mais pobre. Um jeito rápido de entender isso é ver que, em São Paulo, o aumento do custo de vida das famílias da classe E (mais pobres) foi de 1,49% em agosto, enquanto da classe A (mais ricos) foi de 0,70%, de acordo com dados da FecomercioSP.

Assim, essa sequência negativa do crescimento do País, que se agravou de 2015 para cá – e que agora desemboca nos arroubos golpistas de Bolsonaro -, é também um escancaramento dos efeitos dessas duas situações: a crise política e a crise econômica. O melhor exemplo disso é a política de preços da Petrobras: até meados de 2016, o modelo do negócio era reduzir lucros para atender consumidores e produtores. Hoje, a empresa trabalha para aumentar os resultados dos acionistas, que vão do Estado a grandes investidores.

Isso significa dizer que a imensa maioria da população, que certamente não é dona de ações da Petrobrás, não apenas está fora desse ciclo de vantagens financeiras, como está sendo penalizada por ele: os combustíveis estão sendo reajustados mensalmente (a inflação dos derivados do petróleo em 2021 é de 31%, segundo o IBGE). Em outras palavras, a maioria da sociedade paga pelos benefícios destinados aos donos das ações. Resumindo: os mais pobres são os que efetivamente vivenciam a parte mais dura da crise econômica.