Tem erro não. O que não tem é plano. Porque não tem vacina. Logo, o plano não é de vacinação. Aqui no Brasil o plano é de vacina não. Mas será que isso não tem solução?

A vacinação — ou a sua ausência — no Brasil é uma metáfora perfeita para mais uma oportunidade perdida. Enquanto na próxima semana, em Davos, as elites internacionais vão discutir como o mundo vai ser depois da pandemia, o Brasil continua enrolado em si próprio, mergulhado em ocasos locais e indisponibilidades globais.

O Covid é um problema do mundo inteiro, um risco generalizado que afeta toda a humanidade. Ele representa uma ruptura global que não tem solução local. Não é coisa de capitão, e infelizmente, no caso do Brasil, também não é de general.

Num momento em que uma unidade nacional e um pensamento global e estratégico poderiam trazer vantagens únicas para a competitividade do Brasil neste mundo complexo que hoje se desenha, nenhum líder da terra amada está sequer pensando nisso. Ao invés, estamos dando ao mundo uma imagem patética de nação irrelevante.
Quando o Brasil devia estar no centro do debate, esgrimindo internacionalmente a relevância de quem tem o poder de alimentar o planeta, nossos líderes se perdem em guerras vãs que não servem a ninguém, a não ser às estratégias pessoais.

O “celeiro do mundo” não é aquela megaempresa de agro tecnologia, capaz de uma voz atuante na definição do futuro da alimentação global; o maior produtor potencial de alimentos não é capaz de aproveitar a grande crise para ser pioneiro da grande solução que o mundo vai precisar.

Em vez de ser líder no Big Reset — do “Grande Zerar” que o mundo vai ter — nossos líderes insistem em pertencer ao Grande Zero. Na boca do gol, chutando pro céu.

“O brasileiro é um feriado” — fala Nelson Rodrigues! — “O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade”.

Olha a estratégia! Como a gente não tem vacina vamos xingar a China. Depois, vamos pedir ajuda para a Índia mas, no entretanto, aprovamos a compra emergencial das vacinas chinesas e esquecemos as indianas.

Como magos logísticos vamos impedir a exportação de seringas e, ao mesmo tempo, esquecer de proibir a exportação dos insumos de seringa.

O mundo tem planos de vacinação! A gente tem de vacilação.