13/04/2018 - 18:00
O presidente Geraldo Boulos entrou na sala do Ministro da Polarização, Jean Bolsonaro, espumando de raiva.
Balançava o celular como se estivesse estrangulando uma galinha:
– Jean, basta! Isso foi longe demais. Você tem de resolver esse negócio de uma vez por todas!
– Resolver o que, presidente?
– A polarização, Jean. Olha aqui…fizeram uma animaçãozinha minha beijando o Trump na boca. Olha a hora que ele me abraça por trás. Essa gente não tem mais o que fazer, não?
– Mas presidente…somos uma democracia e…
– Não me venha com essa pataquada de democracia! Eu quero é que parem de me encher os pacová! — percebeu o egoísmo e mudou o discurso — Quero o País unido. Em harmonia. — saiu da sala olhando para um céu imaginário.
O ministro Jean coçou a cabeça.
Sua preocupação também não era nobre.
Sem polarização ele mesmo perderia o emprego, pois seu ministério não teria mais função.
Nem dormiu direito.
No dia seguinte, logo cedo, sentou-se com todos os ministros para um brainstorming.
Avisou que só sairiam de lá com uma solução.
A primeira ideia veio do ministro da Cultura:
– Tem de ser alguma coisa que fale com o povo. Tipo uma passeata!
Ideia de comunista, pensou o ministro do Exército.
– Acho que o Estado não deve se meter nisso. — afirmou o liberal ministro da Economia.
– Não temos opção. O presidente quer e pronto.
Muitas horas se passaram até alguém dar uma ideia que poderia resultar em alguma coisa:
– Um jogo de futebol. — pensou alto o ministro do Esporte.
Pausa enquanto todos analisavam a ideia.
– Claro! Esquerda x Direita! Quem ganhar leva tudo!
– Por que “esquerda” primeiro? Por que não Direita x Esquerda?
Mais duas horas de discussão até decidirem que seria Direita x Esquerda.
– Ordem alfabética, pronto.
O próximo passo: como divulgar?
– Na Globo, claro! Quarta-feira, narração do Galvão. — disse o ministro de Direitos Humanos.
– Tá louco? Mídia golpista é que não, né? — encrencou o Ministro da Comunicação.
– Ô meu Deus…tá bom, tá bom, fala aí um veículo que não seja golpista, então.
– Não tem. E não adianta falar em Twitter. Imperialistas não passarão.
Assim, depois de mais algumas horas de confabulação, decidiram que anunciariam na TV Educativa. Pronto.
Estádio, fecharam com o Maracanã, muito mais pelo símbolo.
A população comprou a idéia. Colocaram até adesivos no carro, imagine.
Dia do jogo, estádio lotado, milimetricamente dividido ao meio.
De um lado bandeiras e bonés vermelhos. De outro fogos e o verde oliva.
Times em campo, o juiz Gilmar Weber chama os dois capitães. Dá algumas instruções e prepara o cara ou coroa.
Foi justo aí que a coisa pegou.
– Moeda por que? — perguntou o capitão do time de Esquerda?
– Porque é normal…é o costume… — respondeu o juiz.
– Moeda é imposição de banqueiro! Abaixo os Banqueiros! – começou a gritar.
– Facilita Chico… — pediu o capitão da Direita.
Não facilitou. Bateu o pé.
E a casa caiu.
Não teve quem resolvesse.
Quebra pau generalizado, no campo e na torcida.
– Também…que ideia — Galvão tentava preencher o tempo da transmissão.
Dia seguinte o presidente entra na sala do Ministro.
– Papelão, hein senhor Jean?
O ministro nem respondeu.
Cabisbaixo, continuou empacotando suas coisas.
O presidente voltou a seu gabinete tranquilo.
Afinal o próximo ministro da Polarização já tinha sido escolhido: João Doria Stédile.
Agora vai.