O presidente Geraldo Boulos entrou na sala do Ministro da Polarização, Jean Bolsonaro, espumando de raiva.

Balançava o celular como se estivesse estrangulando uma galinha:

– Jean, basta! Isso foi longe demais. Você tem de resolver esse negócio de uma vez por todas!

– Resolver o que, presidente?

– A polarização, Jean. Olha aqui…fizeram uma animaçãozinha minha beijando o Trump na boca. Olha a hora que ele me abraça por trás. Essa gente não tem mais o que fazer, não?

– Mas presidente…somos uma democracia e…

– Não me venha com essa pataquada de democracia! Eu quero é que parem de me encher os pacová! — percebeu o egoísmo e mudou o discurso — Quero o País unido. Em harmonia. — saiu da sala olhando para um céu imaginário.

O ministro Jean coçou a cabeça.

Sua preocupação também não era nobre.

Sem polarização ele mesmo perderia o emprego, pois seu ministério não teria mais função.

Nem dormiu direito.

No dia seguinte, logo cedo, sentou-se com todos os ministros para um brainstorming.

Avisou que só sairiam de lá com uma solução.

A primeira ideia veio do ministro da Cultura:

– Tem de ser alguma coisa que fale com o povo. Tipo uma passeata!

Ideia de comunista, pensou o ministro do Exército.

– Acho que o Estado não deve se meter nisso. — afirmou o liberal ministro da Economia.

– Não temos opção. O presidente quer e pronto.

Muitas horas se passaram até alguém dar uma ideia que poderia resultar em alguma coisa:

– Um jogo de futebol. — pensou alto o ministro do Esporte.

Pausa enquanto todos analisavam a ideia.

– Claro! Esquerda x Direita! Quem ganhar leva tudo!

– Por que “esquerda” primeiro? Por que não Direita x Esquerda?

Mais duas horas de discussão até decidirem que seria Direita x Esquerda.

– Ordem alfabética, pronto.

O próximo passo: como divulgar?

– Na Globo, claro! Quarta-feira, narração do Galvão. — disse o ministro de Direitos Humanos.

– Tá louco? Mídia golpista é que não, né? — encrencou o Ministro da Comunicação.

– Ô meu Deus…tá bom, tá bom, fala aí um veículo que não seja golpista, então.

– Não tem. E não adianta falar em Twitter. Imperialistas não passarão.

Assim, depois de mais algumas horas de confabulação, decidiram que anunciariam na TV Educativa. Pronto.

Estádio, fecharam com o Maracanã, muito mais pelo símbolo.

A população comprou a idéia. Colocaram até adesivos no carro, imagine.

Dia do jogo, estádio lotado, milimetricamente dividido ao meio.

De um lado bandeiras e bonés vermelhos. De outro fogos e o verde oliva.

Times em campo, o juiz Gilmar Weber chama os dois capitães. Dá algumas instruções e prepara o cara ou coroa.

Foi justo aí que a coisa pegou.

– Moeda por que? — perguntou o capitão do time de Esquerda?

– Porque é normal…é o costume… — respondeu o juiz.

– Moeda é imposição de banqueiro! Abaixo os Banqueiros! – começou a gritar.

– Facilita Chico… — pediu o capitão da Direita.

Não facilitou. Bateu o pé.

E a casa caiu.

Não teve quem resolvesse.

Quebra pau generalizado, no campo e na torcida.

– Também…que ideia — Galvão tentava preencher o tempo da transmissão.

Dia seguinte o presidente entra na sala do Ministro.

– Papelão, hein senhor Jean?

O ministro nem respondeu.

Cabisbaixo, continuou empacotando suas coisas.

O presidente voltou a seu gabinete tranquilo.

Afinal o próximo ministro da Polarização já tinha sido escolhido: João Doria Stédile.

Agora vai.