Jair Bolsonaro (PL) completou duas semanas em prisão domiciliar, vê o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) pela suposta tentativa de golpe de Estado cada vez mais próximo e o comando do Congresso menos simpático a pautar projetos que poderiam livrá-lo de punições judiciais.
Neste estágio das coisas, o filho mais “verborrágico” e outrora responsável pelas redes do ex-presidente, vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o “02”, colocou alvos nas costas dos governadores de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Herdeiros e herdeiros
Em desabafo publicado nas redes sociais, o parlamentar admitiu ter tentado ser o “mais paciente possível” com o grupo, mas a parcimônia não sobreviveu ao contexto mais crítico. “Enquanto Bolsonaro está preso, doente e sendo lentamente assassinado (…) os tais direitistas se calam. Estão preocupados apenas com seus projetos pessoais e com o que o mercado manda“.
– Tentei, até agora, ser a pessoa mais paciente possível diante desses chamados “governadores democráticos”. Mas os fatos, todos os dias, me provam que não há como levar nenhum desses sujeitos a sério.
– Enquanto Jair Bolsonaro está preso, doente e sendo lentamente assassinado a…
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) August 17, 2025
“Fingem que vão resolver algo, falam em indulto para os perseguidos da falsa ‘trama golpista’, mas depois se escondem atrás da ‘prudência e sofisticação técnica'”, acrescentou Carlos, afirmando que os governadores se limitam a gritar “fora PT”, mas não entregam “liderança”. “Querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e patética“.
O texto foi compartilhado pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Elo entre a família e o presidente Donald Trump, o “03” trabalha nos Estados Unidos por punições ao ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos contra o pai no Supremo, contribuindo para medidas como a revogação de vistos de autoridades, o enquadramento do magistrado na Lei Magnitsky e as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros enviados ao país.

Governadores em ato bolsonarista: apoio ao ex-presidente não bastou para adesão de Carlos e Eduardo
A dupla expôs, assim, a tese do núcleo mais radical de aliados de de Bolsonaro quanto aos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, todos concorrentes a representar a direita na eleição presidencial de 2026, quando o ex-presidente estará inelegível.
Não à toa, Carlos descreveu fatos de autoria desses políticos. Ao participar de manifestações contra o STF, Tarcísio subiu no trio elétrico bolsonarista, na avenida Paulista, e gritou “fora PT”, mas evitou menções diretas a Moras.
Como relatou a IstoÉ, a aposta em rivalizar com o petismo faz parte da estratégia eleitoral do ex-ministro, que, ao mesmo tempo, evita elevar as críticas ao Judiciário para não “queimar pontes” com um eleitorado mais moderado.
Ao dizer que os governadores “fingem que vão resolver algo”, o vereador se refere às declarações de Zema e Caiado. Em entrevista à IstoÉ, o goiano criticou as condenações dos invasores do 8 de janeiro de 2023 e, depois, prometeu indultar Bolsonaro e outros condenados como “primeiro ato” de seu possível mandato presidencial. Já o mineiro defende a anistia e diz que o ex-presidente é “perseguido” pelo Supremo.
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Mas Zema se ausentou dos atos mais recentes do bolsonarismo, criticou Eduardo pela atuação nos EUA (a economia de Minas será uma das mais impactadas pelos danos do tarifaço) e lançou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto no último sábado, 16, enquanto a família Bolsonaro insiste que o patriarca estará nas urnas no ano que vem.
Caiado, por sua vez, já se envolveu embates diretos com Bolsonaro, colocou-se como presidenciável com larga antecedência e chegou a dizer que os brasileiros se cansaram do ex-presidente.
Pedágio caro
As demonstrações de fidelidade a suas pautas mais caras são uma espécie de “baliza” para as alianças da família Bolsonaro. Aqueles que preservam o compromisso ganham o selo de apoio do sobrenome; os que negam ou dissidem são carta fora do baralho.
Nas eleições de 2024, por exemplo, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), passou por uma espécie de “metamorfose” na campanha para garantir o ex-presidente no palanque depois de ter a ida ao segundo turno ameaçada por Pablo Marçal (PRTB), que decolou nas pesquisas com um discurso radicalizado à direita e mais próximo do bolsonarismo. Com a vice entregue e os acenos na conta, Nunes conseguiu se reeleger.

Nunes e Bolsonaro: prefeito de São Paulo deu ‘cavalo de pau’ por apoio do ex-presidente à reeleição
O risco, afastado pelo emedebista e que pode passar a pairar sobre os governadores, é ter o mesmo destino dos ex-governadores João Doria e Carlos Moisés, da ex-deputada Joice Hasselmann e do ex-deputado Alexandre Frota. Por diferentes circunstâncias, todos ascenderam na política abraçados ao bolsonarismo, foram taxados de infiéis pela família e, rapidamente, chegaram ao ostracismo.
Precedentes postos e desabafo feito, Carlos e Eduardo sinalizam aos possíveis herdeiros eleitorais do pai que a família é irredutível na cobrança de fidelidade absoluta.