O perigo dos energéticos para a saúde

O aumento do consumo desse tipo de bebida, que cresceu 53% no país, acende o alerta para os riscos, especialmente entre os jovens

Energético
Foto: Freepik

O consumo de energéticos no Brasil tem crescido nos últimos anos, especialmente entre os jovens. Segundo um levantamento da empresa de dados Kantar, em 2024, o mercado de energéticos apresentou um aumento de 53,9% em consumidores alcançados em um ano.

As bebidas energéticas são consumidas individualmente (33% das ocasiões), mas também em grupo (30%), sendo que o compartilhamento entre os jovens de 18 a 29 anos cresceu 67% nesse período. De acordo com Andrea Lopes, cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), esse fenômeno acontece globalmente.

O crescimento é impulsionado por estratégias de marketing agressivas e pela popularidade entre estudantes, atletas e frequentadores de festas”, explica a médica.

Ainda segundo a pesquisa da Kantar, as principais razões de consumo dos energéticos pelos brasileiros são gostar do sabor e matar a sede. No entanto, por trás de embalagens, cores atraentes e sabores inusitados, estão muitos potenciais riscos para a saúde e poucos estudos sobre a bebida, o que dificulta a regulação e o entendimento dos efeitos da bebida.

Como os energéticos atuam no organismo

Os energéticos foram criados para estimular o sistema nervoso a estar mais alerta e o sistema muscular, mais disposto para atividade física. No geral, essas bebidas têm alguns componentes em comum, como a cafeína, açúcar, taurina, guaraná e outros estimulantes, corantes e conservantes. Enquanto os açúcares fornecem energia ao cérebro e aos músculos, melhorando a disposição, por exemplo, a cafeína eleva a pressão arterial e os batimentos cardíacos e bloqueia os receptores de adenosina (que causa sono), reduzindo a fadiga.

A composição dos produtos varia muito, no entanto, dependendo da marca e sabor. “O que dificulta entender e estudar individualmente os efeitos positivos e negativos de cada componente”, explica a nutricionista oncológica Mariana Ferrari.

Existe uma dose segura para o consumo?

Essa variedade de composições dificulta também a recomendação de uma dose “segura” de consumo. Atualmente, não há consenso internacional ou diretriz brasileira da Anvisa que determine um limite diário de consumo dos energéticos. O que se sabe, por exemplo, é a ingestão máxima de alguns dos componentes principais, como cafeína ou açúcar, por dia.

Sobre o açúcar, a OMS fala de um limite diário de cerca de 25g para adultos com dietas de 2.000 calorias. No caso da cafeína, a literatura médica recomenda, o consumo diário máximo de 400mg de cafeína para adultos e 200mg para adolescentes”, explica a nutricionista.

Considerando-se as informações nutricionais de diferentes tipos de energéticos encontrados no varejo, uma lata de 200ml pode conter entre 0g (no caso de energéticos zero açúcar) a 28g de açúcar e 60mg a 80mg de cafeína, dependendo da marca e sabor.

Principais riscos dos energéticos para a saúde

Os maiores riscos dos energéticos à saúde, segundo as especialistas ouvidas pela IstoÉ, estão ligados ao uso frequente e prolongado e em grande volume. Porém, elas ressaltam que mesmo o consumo pontual pode trazer efeitos adversos, como taquicardia, arritmia e elevação da pressão arterial.

Por conter altas doses de cafeína, além de taurina, guaraná e outros estimulantes, o consumo excessivo dessas bebidas pode impactar diretamente o sistema cardiovascular, provocando os sintomas já citados e, em casos extremos, parada cardíaca e morte súbita”, alerta a cardiologista Andrea Lopes, da SBC. Ela ressalta ainda que esses efeitos são potencializados em pessoas com predisposição a doenças cardíacas, hipertensão ou arritmias.

Além dos males ao coração, o consumo excessivo dos energéticos pode provocar outros sintomas como ansiedade, insônia, irritabilidade e dores de cabeça e causar problemas gastrointestinais como náuseas e dor abdominal. O alto teor de açúcar geralmente encontrado nesse tipo de bebida também é um fator de risco para a obesidade, segundo a nutricionista Mariana Ferrari. E, recentemente, as bebidas energéticas foram associadas também ao surgimento de certos tipos de câncer.

Um estudo da Universidade de Rochester, em Nova Iorque (EUA), publicado na revista científica Nature, alertou que a ingestão excessiva da taurina (comum em energéticos) poderia aumentar o risco de cânceres hematológicos (que afetam o sangue) e agravar a leucemia. Para a especialista da SBC, entretanto, não existe motivo para alarde: “até o momento, não há estudos epidemiológicos ou revisões robustas que indiquem aumento na incidência de qualquer tipo específico de câncer relacionado ao consumo frequente de energéticos. A literatura científica atual concentra-se nos efeitos cardiovasculares, neurológicos e metabólicos, sem comprovar ligação com as neoplasias”.

Álcool + energético: uma combinação arriscada

A associação dos energéticos com o álcool, muito comum em festas, é potencialmente mais perigosa e prejudicial à saúde, especialmente para os jovens.

A cafeína presente nos energéticos pode mascarar os efeitos depressores do álcool, levando o indivíduo a consumir mais bebida alcoólica sem perceber o grau de embriaguez, aumentando o risco de intoxicação, acidentes e comportamentos de risco. Para o sistema cardiovascular, essa combinação eleva ainda mais o risco de arritmias e eventos graves”, explica a especialista da SBC.

Os riscos são maiores para jovens, já que o sistema cardiovascular e neurológico de adolescentes ainda está em amadurecimento, o que potencializa o efeito de altas doses de cafeína e outros estimulantes no organismo, segundo Andrea Lopes, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “Existem poucos estudos sobre os riscos dessas duas bebidas juntas, mas sabemos que, separadamente, elas têm motivos para não serem recomendadas”, acrescenta a nutricionista Mariana Ferrari.