O Brasil caminha para ter um enorme problema com o porte de armas por parte da população, repetindo o que já acontece nos Estados Unidos. Enquanto lá um atirador subiu em um telhado em Highland Park, nos arredores de Chicago, e atirou em diversos participantes de um desfile que comemorava o “Quatro de Julho”, feriado que celebra a independência norte-americana, por aqui há, por enquanto, apenas ameaças por parte de uma turma de extremistas. Em redes sociais e em grupos de conversa na internet, as promessas de “fuzilar” a “esquerda” e a “petralhada” nunca estiveram tão fortes como agora.

As razões para acreditar que teremos problemas pela frente vêm do aumento do número de clubes de tiro e também da crescente quantidade de armas em posse da população civil. Mas afinal, que números exatamente são esses? Segundo o próprio Exército, nem eles sabem ao certo, já que a própria instituição admitiu ser incapaz de produzir relatórios detalhados sobre os tipos de armas atualmente nas mãos dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores). Sabe-se que há cerca 1,5 milhão de armas registradas, porém, os detalhes desse armamento ainda são um mistério. Esse apagão de informações ocorre pela falta de padronização de campos do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), o banco de dados responsável por manter atualizado o cadastro de armas adquiridas pelos CACs.

Se o presidente Jair Bolsonaro fala abertamente que quer que a população se arme e de que ele próprio possui um exército de 200 milhões de pessoas (referindo-se a quase a totalidade de habitantes do país), qual será a responsabilidade do mandatário caso tiroteios em massa comecem a acontecer por aqui? Provavelmente falará que a culpa não é dele, que ele não é coveiro, independente das indiretas que tenha dado em relação ao armamento em massa. Isso sem falar das novas normas na legislação que tem por objetivo reduzir as exigências legais para posse e porte, aumentar a quantidade permitida de munições que um cidadão pode comprar e ainda liberar a venda de armamentos pesados. O resultado de medidas como essa? Aumento de 261% nas vendas de armas aos CACs.

Vale lembrar que o último “Sete de Setembro”, data da Independência do Brasil, foi bastante simbólico, com o presidente gritando de dentro de um carro de som que não responderia mais às ordens judiciais do Supremo Tribunal Federal. Será que nesse ano teremos mais eventos da mesma natureza? Tão perto das eleições, será que ninguém tentará levar o lema “um povo armado jamais será escravizado” a um novo patamar?

Se nos Estados Unidos a data nacional acabou sendo usada para passar uma mensagem de ódio, só nos resta esperar que ninguém se inspire nas terríveis matanças que acontecem por lá.