Os egos do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, se alvoroçaram em redes sociais na disputa pelo mérito de quem de fato colocou fim ao ilegal e inconstitucional motim de policiais militares no Ceará, encerrado na semana passada, após treze dias de duração. Como geralmente acontece em confrontos egoicos, ninguém na verdade fez coisa alguma para se autocobrir de glórias. Bolsonaro, que insufla a politização das polícias, atentando contra a República e dando margem a milicialização da PM pelo País afora, chegou a acenar com o seu apoio a uma eventual anistia aos amotinados – coisa que o governo cerarense e a Assembleia Legislativa do estado acertadamente já descartaram. Moro foi pessoalmente ao local conflagrado, declarou que não viu desordem – enquanto isso, cerca de duzentas e cinquenta pessoas eram assassinadas. Mais: declarou que a greve era ilegal, mas que policiais não são criminosos. Criou, assim, uma nova categoria: o criminoso legal. A história fechou de forma inacreditável: o diretor da Força Nacional, coronel Antônio Aginaldo de Oliveira, que tem o dever de ofício de cumprir a Constituição, parabenizou os insurgentes. Se policiais estão ganhando salário ruim, isso é outra coisa.

O que importa é que eles são proibidos de fazer greve e autoridades federais não podem ser condescendentes.

Presidência da República
Para calar Bolsonaro

O perigo da politização da polícia
Isac Nóbrega/PR

Cada indivíduo, se quer caricaturar a si mesmo, procura alguém capaz de bem parodiá-lo. Jair Bolsonaro escolheu um palhaço. Para uma festa infantil? Não. A palhaçada foi para tratar da derrocada econômica com o aumento irrisório de 1,1% do PIB em 2019. O nome artístico do excelente comediante é Carioca. Ele foi escalado para responder sobre o PIB aos jornalistas, que insistiam, claro, em idagar Bolsonaro. O humorista deu bananas aos repórteres e usou carro oficial. O presidente quis saber porque a mídia insiste em entrevistá-lo. Aí, deu uma ótima ideia. É perfeitamente possível fiscalizar os desmandos de Bolsonaro sem mais falar com ele, nem fotografá-lo. Há fontes secundárias sérias. Nenhum jornalista deveria falar com ele daqui para frente, o que não significa abrir mão da função precípua da imprensa: a fiscalização do poder público. Cada passo do capitão pode ser seguido, sem que se ouça a sua voz.