WASHINGTON, 4 AGO (ANSA) – A redução das tarifas dos Estados Unidos dos temidos 50% para 15% pode não ser suficiente para que o Lesoto, um pequeno país do sul da África com 2,3 milhões de habitantes, evite os danos causados à sua indústria têxtil ? fortemente dependente das exportações para o mercado americano ?, que agora enfrenta fechamentos massivos de fábricas e aumento do desemprego.
O Lesoto foi o país mais afetado no “Dia da Libertação” promovido por Trump em 2 de abril, com uma alíquota de 50%, a maior entre as anunciadas na ocasião, cifras que depois seriam suspensas. Na semana passada, no entanto, o presidente aprovou uma lista que prevê tarifa de 15% contra esse enclave situado na África do Sul, porém a crise já estava instaurada.
O reino, que Trump definiu como “um país que ninguém sabe que existe”, tem um produto interno bruto de pouco mais de US$ 2 bilhões, baseado quase inteiramente nas exportações têxteis. A maior parte dessa produção vai para os Estados Unidos, onde o Lesoto desfrutava de acesso privilegiado e tarifas zero graças à Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (Agoa).
Com isso, o Lesoto se tornou a “capital do jeans na África”, com fábricas produzindo para marcas americanas históricas como Levi’s e Wrangler. Mas, devido à ameaça de uma tarifa de 50%, muitos importadores americanos cancelaram pedidos, e as empresas locais demitiram funcionários em massa.
O Lesoto declarou “estado de calamidade nacional” devido ao desemprego, que já era alto no país, e agora o ministro do Comércio, Mokhethi Shelile, almeja uma redução das tarifas para 10% para recuperar a competitividade no mercado americano.
A manufatura têxtil é a maior indústria do setor privado nacional, empregando mais de 30 mil pessoas em 2024. Muitos temem que isso seja um prenúncio do que está por vir para outras fábricas no país, onde a pobreza é generalizada e a maioria dos trabalhadores têxteis é a única fonte de renda de suas famílias.
É verdade que o Lesoto é uma “economia muito pequena”, como descreveu Shelile, mas sua relação com Washington remonta a décadas. Os Estados Unidos foram o primeiro país a abrir uma embaixada na capital Maseru, quando Lesoto declarou independência do Reino Unido, em 1966.
Seus militares receberam treinamento americano, e centenas de milhões de dólares em fundos dos EUA foram enviados ao Lesoto para combater a epidemia de HIV. (ANSA).