Grandes estadistas costumam captar o espírito do tempo, encarnando os anseios, glórias e ambições de seu povo. Jair Bolsonaro consegue personificar o exato oposto dessa máxima. No dia em que o País ultrapassou 177 mil mortes na maior emergência sanitária em um século, em meio à alta da inflação e do desemprego, ele resolveu inaugurar com a esposa uma exposição para celebrar o próprio casal. A mostra foi aberta no Palácio do Planalto na segunda-feira, 7. Reúne duas vitrines com as roupas que o primeiro casal usava no dia da posse. “Um dia memorável, né?”, disse a primeira-dama, ao lado dos manequins sem pé nem cabeça. Acompanharam o evento os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Jorge Oliveira (Secretaria Geral da Presidência), Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Marcelo Álvaro Antônio, o titular do Turismo que foi defenestrado dois dias depois.

Nem Maria Antonieta antes de encarar o cadafalso teria a ousadia de celebrar seus próprios adereços para a patuleia esfomeada e enferma. Bolsonaro teve. Na prática, trata-se mais de uma exibição de narcisismo afetado e tosco do que uma projeção de poder e influência. Além disso, quem se orgulha do estilo chinelão, pão com leite condensado e passeio de moto sem capacete não consegue transmitir charme. No fundo, o mandatário montou uma operação de marketing caipira, de quem só enxerga a cultura pelo filtro distorcido de influenciadores digitais. “Patética a exposição e patético casal presidencial, inclusive fazendo propaganda de uma grife de terno e roupas masculinas. Que coisa mais ridícula!”, postou nas redes sociais Roberto Freire, presidente do Cidadania. Na cerimônia, o presidente ainda se gabou de ter conseguido o terno na faixa. “De graça até injeção marciana, né?”, disse, em tom de piada. As roupas foram doadas para o acervo do Planalto e a exposição será permanente. Os trajes, que incluem os sapatos usados no dia, ficarão ao lado Rolls-Royce presidencial.