O resultado da eleição parlamentar na Itália gerou um impasse. Nenhum partido obteve os 30% de assentos necessários para liderar o governo, o que exige a composição de alianças pouco prováveis — ou, em último caso, a volta dos eleitores às urnas. O partido que individualmente obteve mais votos, somando 229 lugares, é o novato MoVimento 5 Estrelas (M5S), criado pelo comediante Beppe Grillo e liderado por Luigi de Maio. A coligação nacionalista de centro-direita encabeçada pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que aglutina as legendas Força Itália, Liga Norte, Irmãos da Itália (de extrema-direita) e Nós com a Itália ficou com 260 assentos. São necessárias 315 cadeiras para garantir a maioria. Seja qual for o desdobramento do pleito realizado no domingo 4, o resultado é o fortalecimento do discurso conservador. O Partido Democrático, de centro-esquerda, agora está isolado.

O passo à direita dos italianos se alinha às políticas protecionistas e anti-imigração do presidente dos EUA, Donald Trump, com o avanço do conservadorismo na Europa e com o Brexit — a saída do Reino Unido da União Europeia. Durante a campanha, a Liga Norte, segundo partido com mais votos, fez o possível para vincular a crise econômica à política de acolhimento de imigrantes. O discurso xenófobo e protecionista também esteve no palanque de outros partidos, como foi o caso do ultradireitista Irmãos da Itália, que teve uma vitória histórica, com 6% dos votos. “Foi uma campanha que polarizou e criou um clima de ódio na Itália”, afirma Arnaldo Francisco Cardoso, professor de Relações Internacionais da Universidade Mackenzie. Como não existe nenhuma unidade programática entre os partidos que elegeram representantes e todos eles são frágeis em termos de programa de governo, o desafio, agora, é a composição de forças. “O primeiro teste vai ser a indicação para presidente da Câmara e do Senado”, diz Cardoso.

Problema em vez de solução

Por ter obtido o maior número de cadeiras, o M5S entra na disputa como favorito para eleger o primeiro-ministro, cargo cobiçado pelo jovem deputado Luigi Di Maio, de 31 anos, que tem um discurso ponderado, pouco inflamado e é filho de um membro do partido fascista Movimento Social Italiano. Di Maio ganhou força junto ao eleitorado seguindo a estratégia populista do ex-comediante Beppe Grillo, criador do partido. Uma das questões centrais da campanha foi a defesa do emprego e da renda dos trabalhadores italianos. Embora seja um tema de apelo popular, não é o maior problema do país hoje. “Existem questões sérias, como o sistema bancário italiano, que está operando com resultados deficitários”, diz Cardoso. Até por isso, a Itália não tem condições de se retirar da União Europeia. Por ser refratário à alianças, o M5S pode se tornar mais um problema do que uma solução para a Itália.