Em um País onde as mulheres compõem a maioria do colégio eleitoral, esposas e namoradas se tornaram cabos eleitorais da mais alta importância aos maridos candidatos, sobretudo para aqueles que lideram as pesquisas à função de mais alto mandatário. Elas são 52% do eleitorado brasileiro. Pode não parecer nada essa acanhada vantagem, mas, na corrida às urnas, dois por cento fazem muita diferença. Não sem motivo, portanto, estrategistas de campanha dos dois candidatos que estão à frente das pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, têm dado especial atenção à figura das mulheres que estão ao lado deles. Assim, embora a expressão primeira-dama possa soar anacrônica para grande parte do eleitorado (até porque, à exceção de Maria Tereza Goulart e Ruth Cardoso, as demais pouco se destacaram), segue firme a aposta dos marqueteiros na força feminina nos palanques. Para o bem da democracia no Brasil, as mulheres vêm ocupando, cada vez mais, relevantes funções nos setores público e privado. Não é diferente na política.

DESCONTRAÇÃO Lula e Janja, em uma comunidade quilombola, em Paraty: casamento anunciado para o mês que vem (Crédito:Divulgação)

No caso do atual ocupante do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, correligionários dobram a aposta ao escalar a sua esposa e primeira-dama, Michelle Bolsonaro, 40 anos, para rodar o País em campanha. Ela aumentará mais ainda a sua participação em eventos do governo e, para tanto, viajará por diversos estados – principalmente das regiões Norte e Nordeste. Ponto principal da agenda é um programa de empreendedorismo para mulheres comandado pelo Ministério da Economia. Os aliados de Bolsonaro acham que Michelle pode cativar segmentos sociais que resistem a ele. Sob essa perspectiva, um maior engajamento da primeira-dama suavizaria a imagem de misógino que Bolsonaro transmite em suas falas, piadas e gestos. Ele enfrenta forte rejeição junto ao eleitorado feminino e, convenhamos, estão elas, as mulheres, com razão. Basta de machismo no Planalto.

Michelle sai-se bem no papel de populista, seguindo a cartilha tradicional. Foca nas causas sociais. No último Natal, por exemplo, fantasiou-se no Palácio da Alvorada de Branca de Neve, na festa do programa Pátria Voluntária, do qual é presidente. Na ocasião posou para fotos ao lado de Papai Noel durante distribuição de presentes a crianças carentes. Antes disso, também em dezembro de 2021, havia se trajado de palhaça para promover doação de medula óssea. Ela não coloca limites para ver o seu marido seguir na Presidência, e até de policial rodoviária federal já se vestiu.

A figura de primeira-dama sempre teve um lugar de destaque no imaginário sociológico popular, e isso não ocorre só no Brasil – Eva Perón, na Argentina, e Jacqueline Kennedy, nos EUA, são marcantes exemplos

Compete diretamente com Michelle a socióloga Rosângela da Silva, 55 anos, apelidada Janja. Foi apresentada como namorada do ex-presidente Lula em 2019, quando ele deixou a carceragem da PF em Curitiba (irão se casar no mês que vem). A chegada de Janja coincidiu com uma nova fase na vida de Lula, na qual ele surge tentando se reerguer e retornar à vida pública depois da prisão e do falecimento da esposa Marisa Leticia, em 2017. São abundantes os registros fotográficos em que Lula e Janja são flagrados em clima de romance, ou, então, divertindo-se na maior descontração. Com bastante frequência ele se deixa ver ao lado de Rosângela, e é claro que nisso existe uma estratégia: o petista ainda não assumiu que é pré-candidato, mas politicamente já vai tentando conquistar a simpatia das eleitoras. O que Rosângela fará e como aparecerá nos palanques? Nesse ponto a resposta oficial está decorada: “ainda não há agenda porque ainda não há campanha”. Por ora, Janja acompanha o ex-presidente em eventos e participa de encontros com apoiadores e artistas, como ocorreu recentemente no Rio de Janeiro. Não resta dúvida, no entanto, que no momento certo ela estará nos comícios – e, ao contrário do temperamento discreto de Marisa Letícia, o de Janja esbanja extroversão. A figura de primeira-dama sempre teve um lugar de destaque no imaginário sociológico popular, e isso não acontece somente no Brasil – Eva Perón, na Argentina, e Jacqueline Kennedy (depois Onassis), nos EUA, são marcantes exemplos. A diferença é que agora, com o justo empoderamento das mulheres, as esposas e namoradas de candidatos se tornaram imprescindíveis cabos eleitorais.